Vereadores repudiam atos de violência em paralisação de policiais militares no Ceará

20/02/2020 - Adriana Albuquerque

O atentado contra o senador Cid Gomes, em Sobral, foi tema das discussões durante o Pequeno Expediente. Os parlamentares apontaram ilegalidades na manifestação dos agentes de segurança

Os vereadores de Fortaleza repercutiram a paralisação de parte dos policiais militares do Ceará, durante a sessão plenária desta quinta-feira (20). O movimento, considerado ilegal pela Justiça do Ceará, tem causado atos de vandalismo e violência em todo o Estado. Desde segunda-feira (17), homens encapuzados invadem batalhões, retiram viaturas e esvaziaram pneus de carros oficiais nas ruas de vários municípios cearenses.

Presidente Antônio Henrique lamenta atos de vandalismo durante manifestação de policiais militares

Em Sobral, na Região Norte, comerciantes foram obrigados, na tarde de ontem, a baixar as portas do comércio local por ordem dos manifestantes, que posteriormente ocuparam um batalhão da Polícia Militar na cidade. O senador Cid Gomes tentou dispersar os manifestantes usando uma retroescavadeira e foi atingido por dois tiros. A situação causou indignificação na classe política e elevou o tom contra o movimento.

O vereador Adail Júnior (PDT) considerou o ato como uma “tentativa de homicídio” contra o ex-governador e afirmou que o movimento tem sido usado para alcançar benefícios políticos. “O que aconteceu ontem em Sobral é indefensável. Não tem sentido, é uma briga que só quem vai pagar a conta é a sociedade. Este grupo político que representava a PM do estado do Ceará, tenho certeza, não representa mais”, apontou.

O vereador Gardel Rolim (PDT) criticou os atos realizados pelos manifestantes nessa semana, embora reconheça que os trabalhadores têm direito a reivindicar por melhores condições. “Uma coisa que precisa ficar clara é que todos os vereadores são a favor da luta por melhores condições de salário de qualquer categoria, mas essa luta deve ser feita dentro da lei. A Constituição, no seu artigo 142, proíbe a greve de militares e nós não vamos apoiar atos fora da lei”, disse.

Segundo o parlamentar, o atos registrados em Sobral tiveram conotação política. “Alguns policiais ordenaram o fechamento do comércio de Sobral, porque lá o Ivo Ferreira Gomes é prefeito, Cid Gomes foi prefeito e o futuro presidente do País Ciro Gomes é de lá. Foi uma ação para tentar desmoralizar um grupo político porque essa ação é uma ação política e eleitoreira”, classificou Gardel.

11.02.2020

A atual líder da bancada do PT, Larissa Gaspar, também se manifestou contrária à ação dos policiais. “É inadmissível esse processo de milicialização das forças de segurança, homem de balaclava e arma em punho impondo a clausura de cidadãos em suas casas, usando um discurso de que se trata por melhores condições de trabalho, mas nós sabemos que não é”, disse.

Segundo a vereadora, os acontecimentos estão ligados à disputa eleitoral, com o objetivo de fortalecer politicamente os representantes dos policiais e bombeiros militares. “A própria categoria havia sentado na Assembleia Legislativa e representantes do Governo acordaram uma proposta que foi comemorada e depois voltaram atrás para aterrorizar a população e aparecer como heróis da população diante da destruição que eles mesmos criam para ganhar a Prefeitura de Fortaleza”, declarou.

Também representando a oposição, o vereador Guilherme Sampaio (PT) se solidarizou com o senador Cid Gomes e reforçou que a postura dos manifestantes “não reflete o juramento de defender a sociedade”. O parlamentar considera ainda que há atuação política com foco nas eleições municipais deste ano no movimento. “Temperança é o que o governador Camilo tem demonstrando, a minha torcida é que o senador Cid Gomes se recupere. Não se pode permitir a atuação política das forças de segurança e isso coloca em risco a paz na sociedade”, pontuou.

Guilherme ressaltou ainda a negociação entre os representantes dos policiais militares com o Governo do Estado ao longo de três meses. “Isso resultou no acordo apresentado na Assembleia Legislativa que garante o aumento salarial escalonado, com a primeira parcela de 40% e outras duas de 30%. Além disso, temos ganhos no vencimento fixo, representando investimentos de R$ 438 milhões”, afirmou.

Na avaliação de Esio Feitosa (PDT), líder do Governo, os tiros contra o senador Cid Gomes representam um “atentado contra a democracia” e expõem uma tentativa de desestruturar os poderes do Estado. “Está muito claro que não se trata mais de uma luta salarial. O que existe agora é um movimento que tenta desestabilizar os poderes constituídos do nosso Estado. Não falo só do governador Camilo Santana, falo de uma tentativa de desmoralizar o Poder Legislativo Estadual e o Poder Judiciário, que proibiu o que está acontecendo”, disse.

O vereador também afirma que há interesses eleitorais no movimento.
“Isso demonstra claramente que o interesse desse grupo político, liderado pelo deputado federal Capitão Wagner, não visa proteger os interesses dos membros da gloriosa Polícia Militar. Na verdade, se repete hoje o que aconteceu em 2011. É claramente um movimento de político-eleitoral”, definiu.

Vereador Sargento Reginauro

Sargento Reginauro (sem partido) usou a tribuna da Casa para apoiar as revindicações dos policiais militares e fez críticas à atitude de Cid Gomes de tentar inviabilizar o movimento em Sobral. “O responsável pelos tiros que ameaçaram de morte o senador deve ser punido, assim como também deve ser investigada a atitude do político que tentou intervir na manifestação”, disse.

Confira a declaração de outros parlamentares:

“Lutar por aumento de salários e por melhores condições de trabalho é justo e às vezes necessário, mas andar pelas ruas com o rosto escondido para quem ninguém lhe reconheça é porque está cometendo um crime e ele tem consciência disso. Nós sabemos que a Polícia Militar tem profissionais sérios, competentes, que tem aptidão para o cargo que exerce e que dá a própria vida para defender o cidadão. Reivindicar os direitos é justo, mas não pode se exceder querendo tirar a vida de quem quer que seja”. Didi Mangueira (PDT)

“Nós não podemos tolerar a barbárie. O que está acontecendo é a negação do estado de direitos. Uma greve de cidadãos encapuzados e armados é uma ameaça absoluta à ordem pública. Não existe greve com pessoas armadas e encapuzadas. Isso coloca em risco os princípios basilares civilizacionais. O que estamos assistindo é a barbárie”. Evaldo Lima (PCdoB)

“Estão espalhando medo e caos em nome de um aumento salarial que já havia sido aceito pelos representantes da categoria. Durante a reunião de negociação, eles sugeriram as mudanças. O ato de Cid Gomes caracterizou a nossa indignação pela paralisação de serviços essenciais à população. Que o sangue que jorrou de Cid Gomes possa estancar o movimento político na Segurança do nosso estado”. Dr. Porto (PRTB)

12.02.2020

“Por que aqueles amotinados que estavam de balaclava não estavam mostrando a cara? Porque sabem que estavam cometendo crime. Esse movimento é alheio à legislação e à legalidade. É um movimento criminoso. Fazer movimentação com arma na cintura não é a melhor forma”. Iraguassu Filho (PDT).

“Está acontecendo a pura irresponsabilidade. Eu tenho o maior respeito pela Polícia Militar do Estado do Ceará. São trabalhadores da maior importância social, é uma categoria que tem o meu respeito, mas esses falsos líderes não tem o meu respeito. A tática deles é pregar o pânico entre as pessoas. Em Sobral, ameaçaram trabalhadores, comerciantes, mandaram fechar portas, a exemplo de facções que fazem esse tipo de ameaça nas periferias”. Dr. Eron Moreira (PP)

12.02.2020

“Parte da Polícia Militar não está respeitando a Constituição do nosso país. O que está acontecendo no nosso Estado é ilegal e isso não podemos aceitar. Isso saiu do campo do fortalecimento da categoria e foi para o campo político. Esses líderes estão insuflando a categoria e rasgando a Constituição. Jamais poderemos acatar quem desrespeita nossas leis”. Benigno Júnior (PSD)

“Espero que haja bom senso de ambas as partes. Sabemos que o governo manteve o diálogo e a gente espera que seja uma manifestação pacífica e que seja resolvido o mais rápido possível”. José Freire (Patriota)

“O que vemos é a ânsia da má política atravessando o Governo do Estado, eu não entendo como se abre uma a negociação e isso cai por chão. Portanto ao tratar do tema, quero reforçar que o governador Camilo está no caminho certo. O que se revelou em Sobral foi o tamanho da falta de temperança e que esse movimento não tem o objetivo de melhorar o Estado. O governador deve punir os marginais que prejudicam a Polícia Militar” . Ronivaldo (PT)

Entenda o motim dos policiais militares do Ceará

Com informações de Ana Clara Cabral, Anna Regadas e Cleonardo Dias

Fotos: Érika Fonseca