Câmara outorga a Medalha do Mérito Humanitário Zumbi dos Palmares para Maria Zelma de Araújo Madeira

23/06/2022 - Câmara Municipal de Fortaleza

Zelma Madeira é referência municipal, estadual e nacional no combate ao racismo, na promoção da igualdade, na valorização, na difusão e na preservação da cultura negra.

A Câmara Municipal de Fortaleza realizou sessão solene, nesta quinta-feira (23/06), para a outorga da Medalha do Mérito Humanitário Zumbi dos Palmares à Doutora Maria Zelma de Araújo Madeira. A comenda foi proposta pela vereadora Larissa Gaspar (PT), através do requerimento 7668/2021, aprovado por unanimidade pelo plenário da Casa Legislativa. Conforme a parlamentar, a homenagem se justifica pelos feitos e relevantes serviços prestados à promoção da igualdade racial pela homenageada.

A Medalha Zumbi dos Palmares foi instituída pela Câmara Municipal de Fortaleza para agraciar personalidades físicas ou jurídicas que, em Fortaleza, tenham se destacado por suas ações e serviços relevantes no enfrentamento ao racismo e na promoção da igualdade racial. “Indubitavelmente, Zelma Madeira é referência municipal, estadual e nacional no combate ao racismo, na promoção da igualdade, na valorização, na difusão e na preservação da cultura negra. A homenageada tem sua vida pautada no compromisso com a construção de uma política social e cultural igualitária e inclusiva, que também contribua para a valorização da história e das manifestações culturais e artísticas negras brasileiras como patrimônios nacionais”, disse a vereadora.

A solenidade foi presidida pela vereadora Larissa Gaspar, em nome do presidente do Legislativo Municipal, Antônio Henrique (PDT) e a mesa de honra foi formada pelos seguintes membros: secretário-executivo de Proteção Social, Justiça, Mulheres e Direitos Humanos do Estado, Tadeu Lustosa, representando a secretária de proteção social Onélia Leite Santana; coordenadora da Casa da Mulher Brasileira, Daciane Barreto; coordenadora Especial de Politicas Públicas e Promoção da Igualdade Racial, Mártir Silva; Coordenadora de Planejamento Institucional da Secretaria de Cultura do Estado, Patrícia Apolônio e a co-vereadora Lila Salu da “mandata Nossa Cara”.

Em sua saudação à homenageada, a vereadora Larissa Gaspar afirmou que falar sobre a Zelma é fácil e ao mesmo tempo é difícil, “ela tem uma biografia conhecida por todos que lutam pelos direitos humanos, combate ao racismo. Na sua trajetória acumula múltipla funções, é doutora da UFC, articulista do Diário do Nordeste e hoje cumpre função de secretaria de acolhimento aos movimentos sociais do Governo do Estado. São funções que não são fáceis devido as limitações, por isso é preciso ser uma pessoa articulada para conseguir agir, requer muita habilidade. Hoje estamos aqui para reconhecer a atuação, e toda uma vida dedicada contra o racismo estrutural que muitas pessoas teimam em negar. O fato mais recente foi o da secretaria de Cultura de Uruburetama que mandou parar uma quadrilha porque os brincantes estavam de branco. Ela disse que era macumba, demonstrando racismo e preconceito religioso”, frisou.

Segundo ela, temos um negro morto a cada 23 minutos no Brasil, “o racismo está enraizado, tivemos uma abolição inconclusa, pois esqueceram de incluir os negros de forma plena na sociedade. As mulheres negras são principais vítimas de preconceito racial e da violência doméstica, se isso não é racismo, é o que? Quem não lembra do episódio de uma brutalidade que seria inimaginável se não fosse filmado, o assassinato de um homem negro em Sergipe, asfixiado por policiais rodoviários federais. Temos muito o que avançar e são pessoas como a professora Zelma e tantos outros que vêm fazendo esse debate e a união contra o racismo e criação de politicas públicas contra o racismo”, pontuou

Disse que no Legislativo Municipal tem aprovado alguns projetos. “Aprovamos a lei que os concursos do município destinem 20% de suas vagas para pessoas negras, politica reparadora e afirmativa; o dia municipal de luta contra encarceramento de pessoa negra; a criação do centro de referência de igualdade racial, que aprovamos em 2017, mas até hoje não temos as equipes compostas de multiprofissionais necessárias para fazer o acolhimento de pessoas negras que se encontram em situação de desrespeito de direitos. Temos outros projetos também em andamento. É com muita alegria que fazemos esse reconhecimento a professora Zelma por sua luta pelas pessoas negras. Agradecemos por todo o legado que a senhora deixa para todas as pessoas, nos ensinando o que é racismo e como podemos enfrentá-lo, e também propondo politicas públicas para termos uma sociedade que seja realmente igual na realidade, no concreto, no respeito, na valorização e toda diversidade que forma o Brasil. Muito obrigado e parabéns por todo legado que deixa para o Estado do Ceará”, concluiu.

Após receber a Medalha do Mérito Humanitário Zumbi dos Palmares e o certificado da mesma, a homenageada fez seus agradecimentos; “Fico contente com a presença de vocês, o meu povo que está aqui e queria fazer referência a minha filha Letícia Madeira e receber essa medalha é muito importante para ela, bem como minha sobrinha Sabrina Madeira e todos meus amigos e colaboradores que trabalham comigo. Recebo essa medalha entre os meus, sou uma mulher negra e nada mais feliz que compartilhar isso com os meus. Ser parte de um povo tem um início comum e um destino comum também. Não posso ser sozinha, sou do coletivo, essa luta é coletiva”, disse.

“Expresso minha gratidão por todos que estão aqui. Agradeço a vereadora Larissa Gaspar, uma mulher inteligente, liderança feminista que sabe reconhecer e respeitar a pauta pela igualdade de gênero. Digo isso porque recebo a medalha Zumbi dos Palmares, que é a maior referência de luta de um povo marcado por desigualdade, povo sofrido e desumanizado. Sua importância é tão grande para o movimento negro, pois Zumbi é considerado um dos grandes lideres da nossa história e lutou pela liberdade. A medalha que hoje recebo vem para premiar personalidades que tenham se destacado no combate ao racismo e igualdade social,” frisou.

Disse desejar que o Brasil seja uma democracia racial com criação de políticas que promovam a igualdade. “Temos somente duas cotas, a de acesso ao nível superior e a concursos. É preciso que cuidemos de si e dos outros. Reconhecer os que nos rodeiam. É absolutamente impossível falarmos em democracia sem igualdade racial. Enquanto não resolvermos isso não vamos conseguir desenvolvimento. Preciso dizer que o racismo produz marginalidade social e cria mentalidade e convicções falsas a ponto de convencer que pessoas negras têm menos direitos. Receber essa medalha é um incentivo para seguir na luta de viver a potencialidade negra no setor público. Não se pode mais dizer que a pessoa negra não tem competência para assumir cargos de direção”.

“Iniciativas como essa da vereadora Larissa nos resguarda e mostra que temos nosso lugar. Termino com o escrito de Luiz Gama: os nossos críticos se esquecem que essa cor, é a origem da riqueza de milhares de ladrões que nos insultam; que essa cor convencional da escravidão tão semelhante à da terra, abriga sob sua superfície escura, vulcões, onde arde o fogo sagrado da liberdade. Muita gratidão de receber essa medalha, que me coloca como liderança, uma mulher negra! Muito obrigado!” concluiu.

Perfil

Maria Zelma de Araújo Madeira possui graduação em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí (1991), mestrado em Sociologia do Desenvolvimento pela Universidade Federal do Ceará (1998) e Doutorado em Sociologia pela UFC (2009) com linha de Pesquisa Pensamento social, imaginário e religião. Assessora Especial de Acolhimento aos Movimentos Sociais do estado do Ceará – ASEMOV (2020). Coordenadora da CEPPIR/SPS – Coordenadoria Especial de Politicas para promoção da Igualdade Racial do Ceará (2015- 2020). Professora do Curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (2004).

Professora do Mestrado em Serviço Social, Trabalho e Questão social. Coordenadora do NUAFRO – Laboratório de Afro brasilidade, gênero e família da UECE. Líder do Grupo de Pesquisa Relações Étnico-raciais: cultura e sociedade da UECE Tem experiência na área de Sociologia, Serviço Social, com ênfase em Relações de Género, Étnico-raciais e Família, atuando principalmente nos seguintes temas: Gestão de Políticas Públicas, Política de Promoção da Igualdade Racial, Ações Afirmativas, Política de Assistência Social, Relações étnico raciais, Família, Gênero, cultura e religião de matriz africana. Vencedora do Prêmio Innovare 2020, na categoria Justiça e Cidadania, por ser uma das criadoras do Projeto “Campanha Ceará Sem Racismo: respeite minha história, respeite minha diversidade”.

Saiba mais:

1- Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí – UFPI (1991);

2- Especialista em Análise Políticas pela Universidade Federal do Ceará – UFC (1993);

3- Mestra em Sociologia pela UFC com área de Pesquisa Relações de Gênero e Sociologia da Família, Tema da dissertação: Maternidade e Conjugal idade – múltiplos discursos na construção de um devir mulher – em 1989;

4 – Doutora em Sociologia pela UFC com área de Pesquisa Cultura e Religião, Tese: A maternidade simbólica na religiosidade de matriz africana: aspectos socioculturais e educacionais da mãe-de-santo na Umbanda em Fortaleza Ceará – Em 2009;

5 – Professora Adjunta do Curso de Serviço Social da UECE e do Mestrado Acadêmico em Serviço Social, Trabalho e Questão Social da UECE. Desde 1997;

6 – Coordenadora da Célula de Ações Afirmativas da PRAE – Pró- Reitoria de Políticas Estudantis /UECE – (2012-2014);

7 – Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Afro brasilidade, gênero e família da UECE – NUAFRQ, desde 2010;

8 – Pesquisadora na área das relações étnico-raciais, relações de gênero, família e políticas públicas.

9 – Coordenou de 2009 – 2011 o Fórum Estadual Permanente de educação e diversidade

étnico-racial do Ceará;

10 – Integrou a Comissão técnica responsável pela elaboração da Proposta ENEM, SISU e

COTAS da Universidade Estadual do Ceará – UECE no período de 2013- 2014;

11 – Responsável pela elaboração do Plano Municipal de política de igualdade racial –

Igualdade é pra Valer – do município de Fortaleza, junto a COPPIR – Coordenadoria de

Política de Promoção da Igualdade Racial, em 2011;

12 – Consultora do BIB para Avaliação de resultados do Programa de Apoio às Reformas

Sociais PRÓ ARES II/STDS no Ceará em 2014;

13 – Assessora junto ao MDS – Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome, no processo de alinhamento do trabalho social com família da Política de assistência social em 2013-2014;

14 – Articulista do Jornal O POVO em 2018;

15 – Coordenadora da CEPPIR – Coordenadoria Especial de Políticas públicas para a Promoção da Igualdade Racial do Ceará de junho de 2015-2020;

16 – Presidenta do Conselho Estadual de Promoção da igualdade racial do Ceará (2016 a 2018)

e Vice-presidente (2018-2020);

17- Recebeu o Prêmio Riomar Mulher na sua 4a. Edição na categoria Justiça e Cidadania por ocasião das comemorações do Dia Internacional da Mulher em 2018;

18 – Recebeu o Prêmio Innovare 2020, na categoria Justiça e Cidadania, por ser uma das criadoras do Projeto “Campanha Ceará Sem Racismo: respeite minha história, respeite minha diversidade”.

19 – Assessora Especial de Acolhimento aos Movimentos Sociais do Estado do Ceará ASEMOV/Casa Civil em 2020;

20 – Colunista do Jornal Diário do Nordeste, em 2021.

Fotos: André Lima