Três em cada dez crianças brasileiras não receberam vacinas necessárias para protegê-las de doenças que podem levar à morte

03/05/2022 - Câmara Municipal de Fortaleza

Mesmo antes da pandemia a cobertura vinha em queda, mas a crise sanitária mundial agravou a situação.

Vacina contra a Gripe - Foto: Erika Fonseca

A pandemia por coronavírus-19, iniciado em março de 2020, trouxe mudanças globais nos hábitos e cuidados com a saúde, alguns para melhor e outros nem tanto. Um deles foi a adesão as campanhas de vacinação realizadas pelo sistema publico de saúde. Mesmo antes da pandemia a cobertura vinha em queda, mas a crise sanitária mundial agravou a situação deixando milhares de pessoas descobertas. Conforme estudo do Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, coletados até dia 5 de abril de 2022, em apenas três anos, a cobertura de vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola (Tríplice Viral D1) no Brasil, por exemplo, caiu de 93,1%, em 2019, para 71,49%, em 2021.

Já a cobertura da vacinação contra poliomielite caiu de 84,2%, em 2019, para 67,7%, em 2021. O levantamento traz uma preocupação significativa, pois três em cada dez crianças no País não receberam vacinas necessárias para protegê-las de doenças potencialmente fatais. As causas são muitas para explicar esse fenômeno, mas a interrupção de serviços essenciais de saúde e o medo das pessoas de saírem de casa para uma unidade de saúde e se contaminarem com a covid-19 deixaram inúmeras crianças sem acesso à imunização de rotina contra outras doenças.

Logo na primeira infância, as crianças recebem imunização contra, pelo menos, 17 doenças. Para o UNICEF, o risco é que, com menos crianças imunizadas, mais fácil será a propagação de doenças, aumentando também a possibilidade do surgimento de surtos em diferentes regiões do globo e à volta de doenças erradicadas em diversos países. O órgão defende que para reverter esse cenário, é fundamental fortalecer os programas de imunização e os sistemas de saúde, e incentivar famílias a vacinar as crianças.

Outras iniciativas seriam: a reestruturação da atenção primária à saúde; o reforço da abordagem integral e comunitária que leva vacinas às populações mais vulneráveis; restabelecimento dos programas de imunização de rotina; desenvolvimento de campanhas para aumentar a confiança nas vacinas e implementação de planos para alcançar todas as crianças e todos os adolescentes e suas famílias com serviços de vacinação, especialmente aos mais vulneráveis que não têm acesso aos serviços de saúde, devido à sua localização geográfica, situação migratória ou identidade étnica.

Fakenews

Para o professor Edson Teixeira, do Departamento de Patologia e Medicina Legal da Faculdade de Medicina e do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia de Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará (UFC), a baixa cobertura vacinal vem em queda desde 2015 e para conseguir manter essas doenças em controle é preciso entre 90 a 95% de cobertura vacinal sobre elas. “Quando ocorre uma baixa cobertura, obviamente teremos crianças, adolescentes e adultos que ficarão sem essa prevenção que a vacina oferece. Dessa forma, o risco de propagação de um vírus, de uma bactéria aumenta. Vimos isso com o aumento dos casos de sarampo, mas pode ocorrer com a poliomielite, com a rubéola e todas as 17 doenças imunizadas pelo PNI e que constam para o cartão de vacina da criança”, detalha

Edson Teixeira pontua que algumas medidas podem ser tomadas para reduzir essa problemática, como o combate as fakenews sobre a eficácia das vacinas; o aumento da informação e a disseminação em massa da necessidade de se atingir os níveis de 90 a 95% da cobertura vacinal; a vinculação da liberação de benefícios sociais, como o Auxilio Brasil, a apresentação da caderneta de vacinação dos filhos com a cobertura em dia, bem como o comprovante de matrícula na escola, entre outras. “O importante é que voltemos para aqueles índices de cobertura que tínhamos antes de 2020,” avaliou.

Foto: Erika Fonseca