Propostas de emprego voltadas para o tráfico de pessoas ainda são uma realidade no Ceará

30/07/2021 - Ana Clara Cabral

Mulheres entre 18 e 40 anos e pessoas de baixa escolaridade estão entre as principais vítimas das falsas propostas de emprego

Movimentação de mulheres nas ruas de Fortaleza

O Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas é lembrado no dia 30 de julho. O momento coloca em destaque também o trabalho em condições análogas de escravidão, como alerta a campanha Liberdade no Ar do Ministério Público do Trabalho.

A procuradora do MPT e gerente do projeto estratégico nacional Liberdade no Ar, Dra. Andréa Gondim, destacou a importância de falar com a população sobre o crime de tráfico de pessoas, contando com o apoio de instituições públicas, como a Câmara Municipal de Fortaleza.

Em entrevista à TV Fortaleza, Dra. Andrea Gondim fala como a prática ainda é comum em nosso território e que muitos cearenses ainda são vítimas de propostas tentadoras de emprego. Segundo a procuradora, as medidas de combate ainda tem muito o que avançar para tentar conscientizar a população sobre essa prática. “Ainda temos irmãos cearenses que são aliciados e levados para outros países para serem vítimas do trabalho escravo. Ainda é uma questão que nos preocupa muito”, disse.

Casos mais comuns de tráfico de pessoas

Gondim informa que normalmente pessoas de baixa escolaridade, com baixo grau de qualificação profissional e mulheres entre 18 e 40 anos que são vítimas de falsas propostas de emprego. “Quando chegam no local de destino, percebem que caíram em uma fraude. Às vezes até uma promessa de amor romântico”, alerta.

Na websérie produzida pelo MPT para tratar sobre tráfico de pessoas mostra uma brasileira que foi captada pela internet com falso perfil de um suposto namorado que a convidou para ir conhecer sua família e passear em Londres. A procuradora conta: “o serviço de imigração barrou, pois percebeu que se tratava de um perfil falso. Quando eles foram checar todas as conversas, perceberam que ela já tinha passagem comprada para a França e seguiria viagem para Holanda”.

“Para ela era uma simples viagem para conhecer o namorado, mas possivelmente ela seria uma vítima do tráfico de pessoas para fim de exploração sexual. Muitas mulheres ainda caem no canto da sereia, no ideal de amor romântico, e se aventuram a viver em outro país”, explica.

Andréa também fala sobre casos de modelos que são aliciadas, colocadas em grupos de WhatsApp para uma falsa seleção. “Às vezes até para uma seleção verdadeira, e as que não são selecionadas são colocadas em outro grupo para que participem de uma segunda seleção, sendo esta falsa. A gente tem que ter muito cuidado com a internet. Ela nos fascina, agiliza a informação, mas também esconde muitas dessas fraudes”, completa.

Ela lembra que existe um grande caso de uma construtora nacional que levava trabalhadores do nordeste para São Paulo e de lá, para fora do país, onde os trabalhadores não podiam sair do local da obra, em uma região de difícil acesso. “Se viram numa situação onde a proposta de emprego não condizia com a realidade. A maioria era homens que não tinham o grau de qualificação baixo e mesmo assim caíram no golpe”, lamenta.

Ainda segundo a procuradora, existem casos de trabalhadores aliciados no interior do Ceará para colheita em outros estados mais ricos da federação, para trabalho no agronegócio, na pecuária, para limpeza de pasto na região norte e para confecção. São as mais diversas atividades que ainda utilizam os trabalhadores na condição análoga à de escravo. “O tráfico de pessoas pode ser para adoção ilegal, remoção de órgãos, casamento servil, e na atribuição do Ministério Público do Trabalho, a nossa preocupação é com o trabalho em condição análoga à de escavo junto ao tráfico de pessoas”, esclarece.

Trabalho escravo e pandemia da Covid-19

Andréa Gondim traz também o alerta que a Organização Internacional do Trabalho e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime afirmaram sobre desemprego, combinado com a pandemia e a recessão global é indicativo de que os índices do trabalho em condição análoga à de escravo vão aumentar. “A gente percebe quantos resgates aconteceram já esse ano. Foram diversos. As pessoas estão em situação de desalento, desamparo, em busca de qualquer emprego, e acabam descuidando para perceber que as ofertas não são realidade”, conclui.

Saiba como não se tornar uma vítima:

O objetivo maior, segundo a procuradora, é de treinar o olhar da sociedade, sensibilizar para a temática e mostrar que realmente não é algo retirado de um roteiro de novela ou de filme. Acontece e as pessoas precisam perceber quais são os sinais de uma proposta falsa de emprego.

  • Saber se a sua qualificação é necessária suficiente para a realização do trabalho no local de destino;
  • Saber se o valor do salário ofertado realmente é o praticado efetivamente no local de destino;
  • Ter um contrato em sua língua pátria, de preferência firmado em cartório;
  • Saber se a empresa é séria;
  • Conhecer o número dos consulados para uma eventual ajuda;
  • Informar os familiares sobre a viagem;

Em caso de suspeita de tráfico de pessoas ou de exploração do trabalho, disque 100 ou denuncie pelo aplicativo MPT Pardal ou pelo site mpt.mp.br.