Sintomas neurológicos pós Covid-19 podem demorar até dois anos para desaparecer totalmente, diz neurologista

15/04/2021 - Câmara Municipal de Fortaleza

São sintomas neurológicos: dificuldades na fala, problemas de memória, limitações motoras, dor de cabeça persistente, sonolência importante.

Além de febre, tosse e falta de ar, a COVID-19 pode apresentar sintomas neurológicos que podem permanecer por até dois anos. Esses sintomas mais comuns são: dor de cabeça, perda do olfato, perda do paladar e convulsões, que estão relacionados com o sistema nervoso, que é formado pelo nosso cérebro, medula espinhal e os “nervos”. Mesmo sem um estudo mais preciso sobre a razão do aparecimento dos sintomas neurológicos, há teorias que mostram que as lesões e a falta de oxigênio nos neurônios (células que formam nosso sistema nervoso) podem ser os responsáveis.

Para a chefe do Serviço de Neurologia do Hospital Geral de Fortaleza, a médica Fernanda Maia, os sintomas neurológicos mais comuns, a dor de cabeça, perda de olfato e de paladar, ocorrem em até 80% do pacientes, mas esse percentual não é uniforme e pode variar para menos em algumas regiões. “O que mais preocupam são os sintomas raríssimos de acontecer, que são os quadros de movimentos anormais no corpo, pacientes que evoluem com relação a memória e comportamento, pacientes que tem apresentado quadro que chamamos de neuropatias que são acometimentos dos nervos que vão para os braços e pernas. Isso tem acontecido mas raramente, até aqui os quadros neurológicos tem sido leves na Covid”, avalia.

Com relação a permanência dos sintomas mesmo após a cura, ela observa que a dor de cabeça tem resolução mais rápida, podendo persistir em casos muitos selecionados. Já com relação a anosmia (perda do olfato) e a ageusia (perda do paladar) pontua que a maioria dos pacientes se recupera rápido, mas existem relatos de 10% dos pacientes com persistência nos sintomas. “Ainda é cedo para falar de sequelas definitivas porque a gente sabe que os sintomas neurológicos demoram até dois anos para desaparecer totalmente, portanto o paciente que teve sintomas no início do quadro do ano passado ainda pode se recuperar”, ressalta.

Conforme Fernanda, no HGF, alguns casos neurológicos mais raros são acompanhados em um ambulatório especifico, mas todos os ambulatórios do serviço de neurologia hoje têm atendido pacientes que tiveram manifestações neurológicas do Covid-19

Walter Cantídio

Conforme explica o chefe do Serviço de Neurologia do Hospital Walter Cantídio, do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará/Ebserh, médico Pedro Braga, as alterações neurológicas pós Covid-19 podem ser; dificuldades na fala, problemas de memória, limitações motoras, dor de cabeça persistente, sonolência importante, entre outras manifestações percebidas. Ele observa que pacientes com sintomas persistentes pós Covid estão sendo atendidos no Serviço de Neurologia para acompanhamento ambulatorial e pesquisa de acometimento neurológico.

“Qualquer paciente com alteração neurológica ou piora de doença neurológica prévia na vigência ou após ser acometido pelo novo coronavírus e que apresente diagnóstico sorológico confirmado e encaminhamento médico, está sendo recebido pelo Ambulatório de Neurocovid do Hospital. Os interessados em encaminhar pacientes, tanto do Sistema Único de Saúde (SUS) como pela rede privada, podem entrar em contato pelos números (85) 9 8962.4217 ou 9 8972.2902 para marcar a primeira avaliação”, acrescenta Braga.

Pesquisa

O neurologista Danilo Nunes explica que, em 2020, o Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal do Ceará (UFC) lançou edital com foco em projetos relacionados à Covid-19. “O meu projeto de Mestrado e o de Doutorado do colega e também neurologista Wagner Leonel, ambos sob a orientação do Prof. Pedro Braga, foram contemplados nesse edital”, acrescenta como surgiu a pesquisa, acompanhada pela Gerência de Ensino e Pesquisa do Complexo Hospitalar da UFC/Ebserh.

O mestrando Danilo Nunes esclarece que o objetivo dos estudos é descrever as alterações neurológicas e cognitivas e em quem estão aparecendo, sejam pacientes com menores ou maiores complicações. “Sabemos que, além da parte neurológica, este período de pouca interação social e de restrição de locomoção pelo qual estamos passando gera também alterações psiquiátricas. Então, são comuns os quadros de depressão e ansiedade, que podem estar sendo agravados ou mesmo desencadeados durante a pandemia e simular alterações cognitivas no paciente pós Covid. Esse acompanhamento em ambulatório ajuda a gente a dividir esses grupos, ou seja, pacientes que estão passando por um problema de ansiedade e tristeza daqueles que, realmente, apresentam um comprometimento neurológico devido à covid-19”, afirma.

Danilo informa que as consultas ocorrem nas manhãs de sexta-feira e que, atualmente, quase 100 usuários são atendidos. “Os pacientes são submetidos a avaliações neurológica e cognitiva e à análise laboratorial, para coleta de material genético. Queremos saber quais genes favorecem o risco dessas pessoas terem determinada complicação. No nosso ambulatório, estamos com casos de alteração de olfato persistente; outros de alteração de memória, mesmo em pacientes jovens; alteração do sono; e até de doença de Parkinson, que iniciam após a Covid-19”, detalha o especialista.

SERVIÇO:

Ambulatório de Neurocovid do HUWC recebe pacientes com alterações neurológicas pós Covid-19

PERFIL DO PACIENTE ATENDIDO: Qualquer paciente com alteração neurológica ou piora de doença neurológica prévia na vigência ou após ser acometido pelo novo coronavírus e que apresente diagnóstico sorológico confirmado e encaminhamento médico está sendo recebido pelo Ambulatório de Neurocovid do HUWC.

COMO ENCAMINHAR PACIENTES PARA O AMBULATÓRIO: Os interessados em encaminhar pacientes, tanto do Sistema Único de Saúde (SUS) como pela rede privada, podem entrar em contato pelos números (85) 9 8962.4217 ou 9 8972.2902 para marcar a primeira avaliação.

Com informações da UFC

Foto: UFC Informa/HUWC