Pesquisa reforça preocupação com sequelas da Covid-19

02/10/2020 - Anna Regadas

Estudo brasileiro revelou que doentes mais graves de Covid-19 perdem até 2% de músculos por dia.


Leito Hospital Leonardo da Vinci - Foto: Governo do Ceará

Um último estudo feito com 40 pacientes do Hospital Sírio-Libanês no estado mais grave da Covid-19 revelou que a perda muscular pode chegar a 2% por dia no período crítico da infecção, quando são necessárias a intubação e a imobilização para a respiração mecânica. O dado reforça a necessidade de se preocupar também com as sequelas da doença para o desenvolvimento de estratégias de
reabilitação dos pacientes.

Os pacientes que ficam na UTI por longos períodos tendem a apresentar sarcopenia (perda de massa muscular) e esse processo é desencadeado pela falta de movimento ou até por ação de alguns medicamentos.

No caso da Covid-19, esse dano é potencializado pelo período maior de internação, que passa de 15 dias em alguns casos, mas também pelo uso de corticoides para combater infecções e a possível ação do vírus que desencadeia uma inflamação no tecido muscular e nos nervos, como explicou no estudo a coordenadora médica da Reabilitação do Hospital Sírio-Libanês e líder da pesquisa, Isabel Chateaubriand.

“O paciente mais grave de Covid-19 perde em apenas um ou dois dias o que uma pessoa com idade de 50 a 60 anos perde em dois anos. É como se ele tivesse um superenvelhecimento”, afirma a médica. Segundo ela, entre os 50 e 60 anos de idade uma pessoa pode perder até 10% da massa muscular naturalmente.

O estudo utilizou uma técnica baseada em imagens de ultrassom para medir a qualidade e a perda de músculos nos pacientes e constatou essa redução da massa muscular.

A conclusão da pesquisa reforça a necessidade de a reabilitação do paciente começar o quanto antes para agilizar o processo de recuperação, especialmente em idosos que já tenham alguma limitação de mobilidade e que podem perder qualidade de vida e se tornarem mais dependentes após a saída do hospital.

Segundo a coordenadora da pesquisa, as abordagens para a reabilitação incluem exercícios, melhorias na nutrição e estímulos elétricos para o músculo.

A médica lembra da necessidade de manter músculos saudáveis e em proporção adequada para o melhor enfrentamento e recuperação de doenças.

Dessa forma, ela também recomenda de forma preventiva a realização de cerca de 150 minutos de atividade aeróbica (corrida, caminhada, natação, entre outras) e duas sessões de exercícios de força por semana, nutrição adequada e controle doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.

Relatos de pacientes demonstram que a Covid-19 pode deixar consequências em diversas partes do corpo como pulmão, coração, vasos sangíneos, rins e cérebro. A perda de olfato, sintoma comum durante a doença, também pode durar por meses. Como se trata de uma doença nova, não se sabe ao certo por quanto tempo esses efeitos podem permanecer.

Logo a pesquisadora ressaltou a importância de se estudar as sequelas da Covid-19 para garantir tratamento adequado dos pacientes, a fim de que os danos não sejam permanentes.

Foto: Governo do Ceará