Câncer de mama: especialista alerta que demora em diagnóstico aumenta risco de mortalidade

01/10/2020 - Anna Regadas

Saiba onde buscar atendimento e realizar os exames na rede pública de saúde:

De acordo com o mastologista e coordenador do Comitê de Controle do Câncer no Ceará, Dr. Luiz Porto, a procura tardia pelo atendimento e a não realização de forma preventiva e periódica do exame de mamografia pelas mulheres, faz com que o diagnóstico seja feito num estágio avançado da doença, o que aumenta o risco de mortalidade.

Com a quarentena imposta pela pandemia do novo coronavírus muitas mulheres deixarem de ir ao ginecologista ou ao mastologista para fazer prevenção ou tratamento do câncer de mama. Dados da Fundação do Câncer revelam que houve uma redução de 84% de exames de mamografia durante a pandemia, se comparado ao mesmo período do ano passado.

Nesse período, o atendimento nas unidades de saúde de Fortaleza e do Ceará continuou, mas teve pouca procura pelas mulheres. Segundo o Dr. Luiz Porto, mesmo com a oferta reduzida em um terço dos exames, houve meses, logo no pico da pandemia, que essa capacidade não foi preenchida.

Para o especialista, a questão vai além da pandemia, é algo cultural. Ele afirma que as mulheres já não têm o hábito de realizar periodicamente os exames preventivos, o que aumenta o risco da doença de levar a paciente ao óbito. “No Ceará, as mulheres não têm a cultura de fazer a mamografia de rastreamento, de prevenção, a maioria só procura serviço médico quando tem o nódulo palpável e com tumores avançados”, ressaltou.

Segundo o mastologista as barreiras para o enfrentamento do câncer de mama são muitas e citou como exemplo um caso compartilhado por uma Agente de Saúde na última reunião do Comitê Municipal de Controle do Câncer de Mama. A Agente contou que uma mulher, após um tempo de espera, conseguiu a guia para realizar o exame na rede pública, mas se recusou a fazer o exame pois seu marido havia proibido. O motivo? O exame seria feito por um homem.

O gestor destacou portanto a importância da conscientização das mulheres sobre a necessidade da prevenção para um diagnóstico precoce e tratamento efetivo da doença e informou que está sendo desenvolvido um aplicativo que vai ajudar as mulheres a avaliarem sua condição de risco e agilizar o atendimento e a marcação de exame na rede estadual.

Sobre os fatores de risco para o câncer de mama, a idade acima dos 50 anos é considerado o mais importante. Logo, a orientação do Ministério da Saúde é que mulheres entre 50 e 69 anos devem fazer um exame mamográfico a cada dois anos, entretanto, se houver qualquer sinal ou sintoma na mama, o exame deve ser feito o mais rápido possível.

Outros fatores que contribuem para o aumento do risco de desenvolver a doença são fatores genéticos e fatores hereditários, além da menopausa tardia, obesidade, sedentarismo e exposições frequentes a radiações ionizantes.

“Nós temos alguns problemas que vão aumentar a incidência dos casos de câncer de mama, como por exemplo o alcoolismo. Hoje as mulheres estão tendo menos filhos e isso também é um fator que aumenta a incidência, ter uma vida também sedentária e com sobrepeso. “, alertou o Dr. Luiz Porto.

O câncer de mama é o segundo mais incidente no mundo com 2,1 milhões ocorrências. Somente em 2018, mais de 17 mil mulheres brasileiras morreram da doença e a estimativa para cada ano do triênio 2020-2022, é de 66 mil novos casos de câncer de mama no Brasil. Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA) servem de alerta para que as mulheres se conscientizem sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce.

No Ceará, a estimativa para o ano de 2020, feita pelo INCA é de 2510 novos casos de câncer de mama. Já em Fortaleza, a previsão feita pelo Instituto é de 1230 mulheres diagnosticadas com a doença. Veja a distribuição espacial abaixo da estimativa de casos no país:

Realizar o exame com periodicidade aumenta a sobrevida em caso de descoberta de câncer. Logo é essencial buscar o atendimento o quanto antes, mesmo sem ter sintomas e se prevenir.

Saiba onde procurar atendimento:

Na rede municipal de saúde, as mulheres podem solicitar o exame após consulta nos 116 postos de saúde da capital. Através da Central de Regulação, será agendado o exame para um dos prestadores da rede. Hoje, a mamografia é ofertada em 11 unidades do município, dentre eles o Hospital e Maternidade Dra. Zilda Arns Neumann (Hospital da Mulher) e os Hospitais Distritais Gonzaga Mota da Barra do Ceará e Messejana, mas a previsão é que eles passem a ser ofertados também nas Policlínicas do Passaré e Bonsucesso.

O assessor técnico da Célula de Atenção à Saúde da Mulher da SMS e Presidente do Comitê Municipal do Controle de Mama, Paulo Vasques orienta as mulheres sobre a rede de atendimento. Confira abaixo:

Já a rede estadual conta com policlínicas regionais que facilitam o acesso das mulheres ao exame de mamografia na região onde moram, sem precisar de deslocamento para a capital ou outras regiões mais distantes de casa. O acesso ao atendimento é por meio da Central de Regulação, sendo as pacientes encaminhadas pelas unidades básicas de saúde do município onde residem.

Ainda na rede pública de saúde do Governo do Ceará, há o Instituto de Prevenção do Câncer (IPC), unidade secundária que atende pacientes também encaminhadas pelas unidades básicas de saúde. Para realizar exame ou fazer uma consulta com algum especialista, a mulher deve ser encaminhada pelo município, pois é o município que marca o dia e a hora para o paciente ir se consultar.

O IPC é referência no diagnóstico precoce e tratamento quando indicado de câncer de mama. O Instituto realiza em média 459 consultas de mastologia por mês, 488 mamografias, 200 ultrassons mamárias e 35 retiradas de nódulos, drenagem e biópsias (procedimento realizado no centro cirúrgico).

Foto: Reprodução/Internet