Covid-19: o que explica a estabilidade de casos e óbitos em Fortaleza?

20/07/2020 - Câmara Municipal de Fortaleza

Em boletim epidemiológico divulgado na última sexta-feira, 17, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) concluiu que o pico da doença na Capital aconteceu entre abril e maio, época em que a média diária de confirmações girava em torno de 800

Mesmo na quarta fase da retomada gradual das atividades econômicas e comportamentais, Fortaleza mantém tendência de queda em número de casos e óbitos por Covid-19. Por quê?

Em boletim epidemiológico divulgado na última sexta-feira, 17, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) concluiu que o pico da doença na Capital aconteceu entre abril e maio, época em que a média diária de confirmações girava em torno de 800. Além disso, o relatório garantiu que a tendência de “achatamento” da curva de casos confirmados se consolidou.

Infectologista do Hospital São José, Keny Colares entende que há pelo menos quatro possíveis explicações para essa “melhora” no cenário epidêmico. A primeira, ele diz, tem a ver com as medidas sanitárias impostas e mantidas por decreto governamental, como o uso obrigatório de máscara, o isolamento social — hoje, parcial — e os protocolos de segurança exigidos para os estabelecimentos com permissão para funcionar.

Dentro desse contexto, o especialista ressalta o cuidado que o Governo tem tido em postergar ao máximo a retomada de atividades de alto risco como a volta às aulas, por exemplo. “A gente sabe que sala de aula é espaço fechado, relativamente propício para transmissão”, disse.

Outra possibilidade — ainda em investigação pela comunidade científica — seria a de que, talvez, nem todas as pessoas sejam suscetíveis à infecção pelo novo coronavírus. “Parte da população pode ter algum tipo de proteção contra essa doença mesmo sem ter se infectado”, disse Keny. No entanto, ele ressaltou: “Isso é uma teoria que ainda precisa ser comprovada”.

A eficácia da testagem rápida e a influência dos fatores climáticos também estão no radar dos pesquisadores locais que buscam entender por que Fortaleza mantém estabilidade na pandemia e não aponta indícios de uma segunda nova onda, mesmo com a retomada da “normalidade” das atividades diárias. Keny concluiu: “Na teoria, existe essa série de reflexões. Mas, na prática, só na prática, é que a gente vai observar as consequências”.

A relação com os óbitos

A média móvel — o correspondente aos últimos sete dias — de casos de Covid-19 em Fortaleza é, segundo boletim divulgado na última sexta, 17, 80% menor do que a registrada duas semanas atrás. Em se tratando dos óbitos, a média móvel nesse período é de 51%.

“Continuamos com tendência declinante muito importante. Nosso pico de óbitos é no mês de maio, sobretudo nos dias 3 e 20, quando chegamos a ter mais de 90 óbitos, em média, por dia. Na semana anterior, estávamos com apenas seis óbitos de média móvel, embora a gente sempre lamente esse número. Redução em relação ao pico e à quinzena anterior”, observou o gerente de Vigilância Epidemiológica da SMS, o epidemiologista Antônio Lima.

Keny Colares entende que a proporção de óbitos está de acordo com a proporção de casos. “Está havendo uma menor procura do sistema de saúde por pessoas com sintomas da Covid-19. E, se o total de casos reduz, o total de casos graves (que podem evoluir para óbito) reduz também, proporcionalmente”.

Tanto Keny quanto Antônio, o dr. Tanta, entendem que, neste momento, para manter os números estáveis a cada semana e, assim, controlar a pandemia, é preciso continuar respeitando os decretos governamentais e os cuidados próprios com a higiene.

“Tá todo mundo querendo que tudo volte ao normal, que se reduzam essas restrições todas, mas é muito importante que todo mundo siga o plano estabelecido pra evitar uma piora e, de repente, a gente perder tudo o que ganhou e voltar pra um isolamento mais rigoroso”, alertou Keny. Tanta, por sua vez, reforçou que “o uso obrigatório de máscara, a colaboração da população e a manutenção das regras de distanciamento social são o que tem feito com que se sustente uma situação que, neste momento, aparenta estar bem melhor do que já esteve”.

Covid-19 em Fortaleza

  • 69% dos casos e 23% das mortes foram confirmados na população de 20-59 anos;
  • 27% dos casos e 77% das mortes foram confirmadas no grupo com 60 anos e mais;
  • A maioria dos pacientes que morreu era do sexo masculino (57%);
  • As regionais com os maiores números de casos e óbitos são a 2 e a 6;
  • Fortaleza tem, atualmente, 39,8 mil casos confirmados de Covid-19 e 3,6 mil óbitos acumulados.

Fontes: Boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e IntegraSUS.

Reportagem: Luana Severo

Foto: Mateus Dantas