Câmara outorga o Título de Cidadão de Fortaleza ao ator Silvero Pereira

17/09/2019 - Câmara Municipal de Fortaleza

A Câmara Municipal de Fortaleza concedeu o título de cidadão de Fortaleza ao ator Silvero Pereira. A homenagem foi proposta pelo vereador Ronivaldo (PT), através do decreto legislativo 014/2019, aprovado por unanimidade pelo plenário da Casa Legislativa. A solenidade foi presidida pelo autor do decreto, no ato representando o presidente do Legislativo Municipal, vereador Antônio […]

A Câmara Municipal de Fortaleza concedeu o título de cidadão de Fortaleza ao ator Silvero Pereira. A homenagem foi proposta pelo vereador Ronivaldo (PT), através do decreto legislativo 014/2019, aprovado por unanimidade pelo plenário da Casa Legislativa. A solenidade foi presidida pelo autor do decreto, no ato representando o presidente do Legislativo Municipal, vereador Antônio Henrique (PDT).

A mesa de honra foi composta pelas seguintes autoridades e personalidades: o secretário de Cultura de Fortaleza, Antônio Gilvan Paiva, representando o prefeito Roberto Cláudio; coordenadora das Mães pela Diversidade no Estado do Ceará, Evelize Régis de Freitas; representando o mandato da deputada federal Luizianne Lins, Mitchele Meire; representando a coordenadoria Especial da Diversidade Sexual, Dediane Sousa; ator, escritor, militante e ativista LGBT, Ari Areia; representando o coletivo As Travestidas, Luana Cauibe; membro do Grupo de Resistência Asa Branca, Dário Bezerra; o vereador e professor Evaldo Lima; representando o mandato do deputado Elmano, André Fama.

O vereador Ronivaldo fez a saudação ao homenageado e a todos os presentes: “Silvero já é esse cidadão que nos orgulha, no país e no mundo. Ele já é um global. Cada vereador tem o direito de homenagear duas pessoas com esse título. O que me veio em mente quando nós do mandato pensamos a quem homenagear, foi o momento que o conheci em 2016, quando levamos turmas da escola que eu era professor, para um espetáculo de teatro no Cuca da Barra. Passado o espetáculo, onde percebemos o talento de Silvero, ele abriu uma roda de conversa com os alunos. Nada é por acaso, não é a toa, que hoje ele é uma referência para tantas pessoas,” frisou.

O parlamentar destacou que o homenageado tem um currículo que dispensa apresentações, “não tenho nenhuma dúvida que sua trajetória já justificaria essa homenagem, mas você vai além, por seu exemplo numa sociedade tão complicada, que não respeita o direito do público dos LGBTs. Vivemos num país que mais mata gays e lésbicas e pratica a homofobia. Mas o que nos move não é só a vergonha, mas a indignação e a luta para mudar isso. O poder público atual quer tornar invisível esse público, mas essa população vai resistir. Queremos uma população que respeite o amor, a liberdade, a vida dos corpos. Na sua luta você dá vida aos corpos de tantos que sofreram simplesmente por sua opção sexual,” enfatizou.

Após receber o título de cidadão de Fortaleza, Silvero Pereira fez seus agradecimentos: “Eu não preparei nada, quero que minhas palavras venham pelo sentimento, pela espontaneidade. Sou muito agradecido pelas presenças de todos e de ‘todis’. Acho que os direitos adquiridos até agora não são totais, não são completos, mas devemos lutar para não perdê-los. Quanto mais dissermos sim aos ataques aos direitos adquiridos, estaremos sendo coniventes. Sou neto de negro, indígena, meu pai era pedreiro, sou de escola pública, passei fome, sede, sou bicha, sou drag queen, sou artista. Por tudo isso sou Brasil. Essa é a primeira vez que venho a Câmara, e é muito importante que os poderes estejam sempre olhando para o Brasil de verdade. Elegemos nossos representantes para que façam a diferença. O Brasil tem que saber que esse é o país dos oprimidos e não dos opressores, apesar dos opressores ainda serem muito poderosos”, asseverou.

Na sua visão, a sociedade atual é doentia. Entende que de todos os mecanismos existentes para que a sociedade não desça ladeira abaixo, seja a educação, a saúde, a segurança, entre outros, a arte talvez seja o menos infectada. “É importante saber colocar as pessoas certas nos lugares certos. Aprendi a olhar para os outros pela arte. Esse meu currículo diz muita coisa, mas ele é resultado do que aprendi com várias pessoas, iniciando com Paulo Hess. Tudo que consegui na minha vida é porque tive alguém que me ajudou a conseguir”, pontuou

Silvero afirmou, ainda, que professa uma religião de origem africana, mas tem uma frase de Jesus que muito o toca, “Pai perdoai-os porque eles não sabem o que fazem.” Com relação ao título disse ser muito importante, pois viveu 25 anos em Fortaleza, mais do que os 13 que viveu em Mombaça. “Sai de lá porque a cidade não me oferecia instrumentos para me desenvolver. Hoje eu volto para minha Mombaça e vejo os jovens tendo mais condições que eu. Fortaleza tem uma importância gigantesca para minha vida. Foi aqui que aprendi e reuni os bens que deixo de herança, que são os bens imateriais. Fortaleza me mostrou a arte, o teatro, o movimento LGBT, me mostrou todos os amigos que tenho hoje e é nessa cidade que quero estar. Hoje vivo mais tempo fora, mas é o mar e Iemanjá do Ceará que me fazem voltar aqui sempre. Muito obrigado Fortaleza, muito obrigado Câmara, muito obrigado vereador Ronivaldo, vereador Evaldo, muito obrigado a vocês presentes aqui”, concluiu.

Perfil

Natural de Mombaca (CE) e nascido em 16 de fevereiro de 1983. Silvero Pereira, 36 anos, é ator, diretor e artista plástico e concludente do Curso Superior de Tecnologia em Artes Cênicas do Centro Federal de Educação Tecnológica do Ceara (CEFET-CE). Começou a sua carreira em 1998, quando aluno da Escola Técnica Federal do Ceara (ETFCE) em Fortaleza, matriculou-se na oficina de teatro e logo depois já estava no elenco fixo da Cia Dionisyos de Teatro com direção de Paulo Ess.

Dentre seus espetáculos como ator estão “Filé Com Fritas ao Vinagrete”. “O Rei Que Não Sabia Ler”, “A Suicida”, “Ray Tex” e “Meu Admirador Secreto”, todos com direção de Paulo Ess; com exceção do último que teve como diretor o pesquisador e diretor Fernando Lira.

Em 2000 ingressa para a CIA LUA de Teatro, onde atuaria nos espetáculos “Rosa Escarlate”, “Dominus Tecum” e “Não Confirmo Nem Duvido”, todos com direção de Ueliton Rocon. No mesmo ano fundou o Grupos Parque de Teatro, por meio da Fundação Parque de Formação Integral do Tapuio na cidade de Aquiraz, onde desenvolve ainda hoje um trabalho social e voluntário com crianças e jovens, usando a arte como mecanismo educacional e social.

Com o Grupo Parque de Teatro realizou a montagem dos seguintes espetáculos : “O Destino a Deus Pertence” (2002), “O Mistério da Cascata” (2004). “Muito Barulho Por Nada” (2005) e “Conte Lá Qu’eu Conto Cá!” (2007): além das esquetes “Papoula”, “A Moça que Virou Cobra” e “A Moça que beijou um Jumento”. Com o Grupo Parque de Teatro conquistaram até hoje mais de 38 prêmios em festivais do estado do Ceará. Ainda em 2005, pelo mesmo grupo estreia o solo “Uma Flor de Dama, tendo sua direção, texto adaptado, interpretação, cenário, figurino, maquiagem e sonoplastia. Com este solo participou atualmente de mais de 16 festivais municipais. estaduais e nacionais, inclusive do IX Festival Nacional de Teatro de Recife. colecionando ate hoje mais de 12 prêmios.

Em 2006 atuaria em “Doroteia”, com direção de Herê Aquino, pelo Grupo Expressões Humanas. E no período de 2001 a 2004 atuaria no Grupo Bagaceira de Teatro nos espetáculos: “Os Brinquedos No Reino da Gramática” (com direção de Renata Gomes). “Ano 4 D.C.” e “Engodo” (ambos com direção de Yuri Yamamoto).

Foi integrante e encenador da Inquieta Cia. de Teatro, de Fortaleza-CE onde dirigiu as esquetes: “As vivas cores da ilusão”, “Para Sempre Fiel” e “Confissões Entre Paredes”, atuando nesta última; e diretor dos espetaculosos “A Rosa?” e “Aniversario de Casamento” e atuando nos espetáculos “S/A – Sociedade Anonima” e “Metrópole”. Como diretor convidado dirigiu o espetáculo “Tudo o que eu queria te dizer” da Cia Lai-tu de Teatro (Fortaleza).

Em 2010 estreou o terceiro trabalho de sua pesquisa sobre o universo das travestis cearenses com o título de “Engenharia Erótica – Fabrica de Travestis” com o Grupo Parque de Teatro. Já em 2011 estreou o Solo “DEPOIS DO PONTO”. a partir de contos de Caio Fernando Abreu. Como professor do Curso Princípios Básicos de Teatro dirigiu os espetáculos “Alice – Nem Tudo Que Parece é” (2009), “Mixórdia – Encontro Desordenado de Fragmentos” (2010), “E SE…”(2011) e “Noite de Núpcias”- (2012). Em 2013, residiu em Porto Alegre, onde realizou por intermédio do Edital Interações Estéticas 2012 – FUNARTE/ MINC e em parceria com o Pontão de Cultura SOMOS, o Projeto “BR-TRANS: Cartografia Artístico e Social do Universo Trans no Brasil” onde estreou o espetáculo “BR TRANS” como resultado de 06 meses de pesquisa e interações com travestis e transformistas do Sul.

Realizou apresentações em mais de 60 cidades brasileiras, 19 Estados e em 2017 passou a integrar o elenco da Rede Globo de Televisão com a novela de Glória Perez “A FORÇA DO QUERER” e com participações no Criança Esperança 2017 (cantando com Sandy) e 2018 (cantando com Jhonny Hooker) e onde atuou como mobilizador da Agito Social. Ainda em 2018 foi vice-campeão do quadro SHOW DOS FAMOSOS do programa Domingão do Faustão.

Fotos: André Lima