Câmara presta homenagem a figuras importantes para arte e cultura do bairro Mucuripe

15/09/2023 - Andre Barbosa Pinheiro

O reconhecimento foi proposto pelo Vereador Gabriel Aguiar (Psol) pelos trabalhos artísticos e históricos realizados pelos homenageados no bairro do Mucuripe.

A Câmara Municipal de Fortaleza homenageou a artista plástica, Raimunda Alves de Sousa, mais conhecida como Mundinha do Mucuripe, com a Medalha do Mérito da Cultura Lauro Maia e o criador do Acervo Mucuripe, Diego Paula de Araújo, com a Medalha do Mérito Educacional Paulo Freire. A solenidade aconteceu na noite desta sexta-feira, 15, no Plenário Fausto Arruda. As honrarias foram propostas pelo Vereador Gabriel Aguiar, com o objetivo de reconhecer a contribuição dos homenageados, para a arte, a cultura e a educação no bairro Mucuripe. A Sessão Solene foi presidida pelo propositor das comendas, Vereador Gabriel Aguiar, em nome do Presidente da Casa, Vereador Gardel Rolim (PDT). Dentre os presentes, a Cerimônia contou, ainda, com a participação do pró-reitor da Universidade Federal do Ceará, professor Bruno Anderson Matias da Rocha, neste ato, representando o magnífico reitor da UFC, professor Custódio Almeida, o superintendente do Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará (IDACE), João Alfredo, o historiador, jornalista e desenhista técnico, professor Nirez, e a Vereadora Adriana Gerônimo (Psol), da Mandata Coletiva Nossa Cara.

O Presidente e Propositor da Sessão Solene da noite, Vereador Gabriel Aguiar abordou os homenageados como agentes colaboradores da cultura e educação do Mucuripe e reforçou a importância da valorização desse tipo de trabalho para a história do povo de Fortaleza. “São duas grandes personalidades do grande Mucuripe que trazem na sua trajetória, sua história, a memória vida dessa grande região da Cidade. Fortaleza é uma cidade que tem muita dificuldade em manter suas memórias vivas, o seu patrimônio histórico, cultural, as suas paisagens, seus marcos históricos. É uma Cidade que muda o tempo todo a sua paisagem. Então, pessoas como a dona Mundinha e como o Diego di Paula, do Acervo Mucuripe, que guardam isso e trazem essa memória viva, são muito importantes ser homenageados, pra que a gente valorize, cada vez mais, a memória, o patrimônio histórico, o território, o patrimônio imaterial do que faz a gente um povo só que é a cultura. Se a gente não tiver o destaque pra isso, a gente esquece da nossa cultura, esquece de onde a gente veio, esquece do que faz da gente um fortalezense”, disse o Propositor da homenagem.

O criador do Acervo Mucuripe, Diego Paula de Araújo falou da representatividade da Comenda e do Acervo Mucuripe como equipamento abrangente em todo o Bairro. “Representa um encontro de pessoas e um momento que eu posso agradecer, ainda vivo, como forma de mostrar esse trabalho que é feito, ainda, de forma independente. São mais de dez anos de pesquisa. O acervo está na minha casa, um espaço muito pequeno, mas é a partir dali que eu posso projetar que o acervo não é só a minha casa, o acervo é o Bairro, o Farol do Mucuripe, é o Mirante, é o Riacho maceió, é a própria praia, como cartão postal”, ressaltou o homenageado.

Já a artista plástica, Raimunda Alves de Sousa, ou, simplesmente, Mundinha do Mucuripe se emocionou e em lágrimas falou da sua relação com o Bairro e da homenagem recebida pela Câmara de Fortaleza. “Fui guardiã do Mucuripe. Amo o Mucuripe. Nasci no Mucuripe e moro no Mucuripe, nunca me mudei. As pessoas foram melhorando de vida e foram morar na Aldeota, que era chique, mas eu continuei no Mucuripe. Eu me sinto tão feliz, porque não é todo dia que se recebe uma homenagem e ainda mais, com noventa anos, vivinha da silva. Eu estou lúcida e me lembrando de tudo, especialmente, do que já passou. Eu me sinto honrada porque é Lauro Maia, ele foi um grande artista e eu tive essa felicidade de receber essa Medalha”, disse Mundinha do Mucuripe, com os olhos marejado e um sorriso no rosto.

Os Homenageados

Raimunda Alves de Sousa (Mundinha do Mucuripe)

É nativa do Mucuripe, nascida em 03 de janeiro de 1933, artista plástica, enfermeira, poetisa, escritora, atriz cênica e defensora do meio ambiente da cidade de Fortaleza, com foco no Parque do Riacho Maceió e na região do Mucuripe como um todo.

Ao longo dos seus quase cem anos de existência exerceu o papel de líder comunitária, buscando melhorias efetivas para sua região, além de ter um olhar especial para os mais desfavorecidos e o meio ambiente, ambos bastante perseguidos pela especulação imobiliária que o bairro do Mucuripe enfrenta. Ainda, chamou atenção para diversos problemas como a degradação do Riacho Maceió e a desigualdade social de Fortaleza.

Envolvida com a comunidade local, por mais de sete décadas manteve a tradição da Lapinha de Natal na sua garagem de casa, integrando toda a comunidade em volta de sua residência, além de ter promovido dezenas da chamada “Festa da Criança”, no dia 25/12, momento de distribuição de presentes para crianças da vizinhança. Antes da pandemia de Covid-19, a festa costumava receber cerca de 400 jovens.

Seus trabalhos de arte com o conceito que abrange trabalhos desenvolvidos de maneira original e sem formação acadêmica prévia, permitem conhecer e representar o Mucuripe, que vão de jangadas a falésias, riachos, jangadeiros, palmeiras, comunidades, rendeiras e outros elementos importantes do Ceará.

Mundinha, além de pioneira no trabalho de arte no Mucuripe, aprendeu a pintar sem muita dificuldade, de maneira autodidata, aperfeiçoando sua técnica dia após dia, até se apresentar em importantes espaços.

Seu trabalho desempenha importantes funções, como a preservação da memória coletiva, dos modos de vida e de saber fazer, os quais são aspectos culturais por vezes ignorados nas produções de maior visibilidade. No caso de Mundinha, o reconhecimento é a dos trabalhadores da cadeia de pesca como comunidade foi um dos grandes trunfos da sua arte. Ela ocupou-se em exprimir o trabalho das pessoas, as roupas, as comunidades dos pescadores e as jangadas com as velas abertas, ressoando um dos mais importantes aspectos do Mucuripe.

Diego Paula de Araújo

É especialista em Gestão Pública, possui graduação em Marketing e formação em Gestão de Negócios em Turismo e Hotelaria. Nativo do Mucuripe, Diego é criador do Acervo Mucuripe, iniciativa que idealizou inspirado no legado de Verinha Miranda, referência em memória e história do Grande Mucuripe, que fundou e manteve o Acervo Cultural Padre José Nilson até seu falecimento em 2016.

Diego iniciou o seu interesse pela história do Mucuripe ainda muito jovem, quando, ao fazer fotos do Grande Mucuripe, que inclui os bairros Vicente Pinzón, Varjota, Cais do Porto, Dunas (atual Lourdes), Praia do Futuro, Papicu e o próprio Mucuripe, começou a perceber diversas mudanças no local.

Ao notar a redução de áreas verdes, de dunas, a remoção de moradias onde antes habitavam pessoas em situação de vulnerabilidade social e o desaparecimento de tradições populares, Diêgo começou em 2008, como hobby, a juntar livros, fotos e vídeos sobre o Grande Mucuripe.

A partir de 2010, após se formar em Gestão de Turismo e Hotelaria, Diego passou a sentir dificuldade em conseguir informações sobre a memória local em suas pesquisas, o que o fez se interessar ainda mais por pesquisar sobre a memória do Grande Mucuripe. Com o seu acervo de material cada vez maior, Diêgo sentiu a necessidade de compartilhá-lo com mais pessoas e no dia 22 de fevereiro de 2017 abriu um espaço físico em sua própria casa para receber pessoas interessadas em acessar e consultar o acervo.

O projeto recebe visitas mediante agendamento e é um espaço de referência em relação à pesquisa da região, recebendo visitantes de todo o país e materiais enviados por pessoas que se interessam em contribuir na expansão do Acervo Mucuripe. Além disso, Diêgo atua com divulgação de informações em escolas públicas participando de eventos e palestras, e nas redes sociais, espaços nos quais divulga conteúdos informativos com fotos, textos e vídeos sobre o Grande Mucuripe.

Vale ressaltar que todo o trabalho é realizado de maneira voluntária e com escassos recursos de apoio financeiro, sendo assim, o presente reconhecimento, através da concessão dessa honraria, é também uma forma de divulgar esse trabalho tão relevante para a cidade de Fortaleza. O Acervo Mucuripe, na figura de Diêgo de Paula, contribui para a construção de uma Fortaleza com memórias e participa de lutas que buscam uma construção de uma cidade com mais igualdade social.

A Medalha Paulo Freire

A comenda criada em 1998 pela Comissão de Educação, Desporto, Cultura e Lazer para homenagear anualmente três pessoas físicas e/ou jurídicas que se destaquem no trabalho em prol da educação na Capital.

A Medalha Lauro Maia

Foi instituída para homenagear artistas da área musical (compositores, intérpretes, instrumentistas, maestros, regentes e arranjadores) em vida ou in memoriam, que tenham se destacado através da produção, apresentação de espetáculos musicais, concertos, composições, arranjos, trilhas sonoras para teatro, cinema, vídeo e demais formas audiovisuais, conjunto da obra, produção fonográfica, ou quaisquer outras atividades musicais que possibilitem a divulgação e a consolidação da cultural musical cearense dentro ou fora do âmbito estadual.

Além dos artistas, a comenda pode ser concedida também a personalidades e/ou entidades públicas ou privadas que desenvolvam projetos de apoio, patrocínio, divulgação, registro e documentação da atividade musical cearense, dentro e fora do âmbito estadual.

Foto: Érika Fonseca