Palestras colocam em pauta a importância da normalização do cuidado com a saúde mental

28/09/2021 - Anna Regadas

Durante o evento, foi lançada a cartilha “Viver com Alegria: Prevenção da Automutilação e do Suicídio Infanto-juvenil”

Live Setembro Amarelo - Foto: Érika Fonseca

A Câmara Municipal de Fortaleza realizou na manhã desta terça-feira, 28, duas palestras que evidenciaram a importância de se normalizar o cuidado com a saúde mental, como forma de prevenção e combate ao suicídio. O evento é mais uma ação da campanha “Setembro Amarelo”, promovida pelo Legislativo Municipal.

Live Setembro Amarelo - Foto: Érika Fonseca

Durante a abertura do evento, o presidente da Câmara, vereador Antônio Henrique (PDT) destacou a preocupação do Legislativo em pautar e discutir políticas públicas voltadas para a prevenção do suicídio, principalmente na infância e adolescência, apontando a necessidade de um olhar mais profundo para o cuidado com a saúde mental.

O presidente aproveitou a ocasião para realizar o lançamento da cartilha “Viver com Alegria: Prevenção da Automutilação e do Suicídio Infanto-juvenil”. O material apresenta os sinais de alerta e orienta os pais, educadores e sociedade em geral sobre o enfrentamento da problemática, abordando as formas de intervenção e cuidados que devem ser adotados para que as crianças e adolescentes sejam acolhidos e recebam o acompanhamento psicológico antes de chegarem a consequências drásticas.

“Nós vemos com preocupação o número de casos sobretudo na infância e adolescência e não podemos ficar de braços cruzados. Precisamos conhecer melhor as causas, estarmos atentos aos sinais de alerta e garantir que o Poder Público, escola e a própria família sejam uma rede de apoio para que juntos possam evitar consequências mais severas”, destacou.

A primeira palestra “Preservando Vidas e Construindo Cuidado” foi ministrada pela psicóloga Mariane Pedrosa, que defendeu a importância do trabalho preventivo e a normalização do cuidado com a saúde mental. “Precisamos normalizar o cuidado com a saúde mental para que as pessoas tenham esse acompanhamento de forma preventiva e não somente quando o estado já é grave”, ponderou.

Segundo a psicóloga, é preciso agregar a temática na sociedade, para a conscientização de que há coisas no cotidiano que podem ser evitadas, como o bullying, situações de exclusão, preconceito, fofocas, relações tóxicas. “Se isso é trabalhado com todos, há uma conscientização maior e respeito às diferenças, e isso já é um processo de prevenção ao suicídio”, alertou.

Com a temática “Viver com Alegria: Prevenção da Automutilação e do Suicídio Infanto-juvenil”, a segunda palestra contou com a participação da autoras da cartilha, a coordenadora do CAPS infantil, enfermeira e advogada Ana Paula; a psicóloga da infância e adolescência, Kaliny Oliveira e a médica psiquiatra da infância e da adolescência, Perpétua Thais.

Ana Paula abordou a incidência de casos de depressão, automutilação e até mesmo de suicídio em crianças, que aumentaram na pandemia, chamando atenção para a saúde mental infantil. “A gente pensa que acontece só com adolescentes de 16 anos, mas estamos atendendo muitos casos de crianças de 7 a 8 anos com automutilação e tentativa de suicídio. E isso é muito grave e algo que nos assusta”, alertou.

De acordo com a psicóloga da infância e adolescência, Kaliny Oliveira, o adoecimento mental das crianças são reflexos de uma cobrança cada vez maior da sociedade e o uso sem monitoramento e excessivo da internet. “A criança desenvolve uma série de atividades, é o curso de inglês, aulas de reforço escolar, curso de informática, atividades físicas, e a sociedade impondo cada vez mais. Outro vilão é a internet. Seu uso inadequado é um potencial adoecedor enquanto saúde mental pois muitas vezes não há um monitoramento necessário. E o terceiro é a prevalência dos transtornos mentais na infância e adolescência, que foram intensificados agora com a pandemia”, afirmou.

A médica psiquiatra da infância e da adolescência, Perpétua Thais também apontou alguns gatilhos agravados com a pandemia. “A família passou a conviver mais e infelizmente a brigar mais também. Nossos adolescentes estão meio que perdidos e isolados nos quartos pois hoje não há mais aquela reunião da família na sala. A dinâmica familiar conturbada, as perdas parentais com a Covid-19. Tudo é fator de risco para suicídio. E não se acredita que ele pode entrar em depressão. Os próprios pais acham que aquele comportamento é para chamar atenção. Pode deprimir e a prevalência nessa faixa etária é alta”, ponderou.

Thaís também defendeu a normalização da saúde mental e do tema. “A gente precisa normalizar também essa assistência para que não passe desapercebido e esse adolescente ou criança não tenha sido acolhido. Passou na rede de saúde básica uma criança com sintomas físicas, dor de cabeça, de barriga quando vai para a escola. Será que isso é só uma virose, um problema gástrico. Vamos investigar, essa criança pode estar sofrendo bullying na escola ou algum tipo de violência em casa. Quantos casos não temos?, refletiu.

Você pode assistir as palestras e conhecer um pouco mais sobre a temática:

Campanha Setembro Amarelo

A campanha Setembro Amarelo, que tem como objetivo conscientizar e ampliar o acesso à informação sobre a prevenção e combate ao suicídio se prolongou por todo o mês, chamando atenção para a necessidade de as pessoas estarem disponíveis para ouvir o outro sem julgamentos.

Idealizada pela Coordenadoria de Comunicação Social da Casa, a campanha envolveu a distribuição de cartazes, folders, bótons e publicações nas redes sociais sobre a temática, alertando para os sinais que podem demonstrar ideias suicidas, como depressão, isolamento, desânimo e desesperança.

A sensibilização também aborda a importância do cuidar da saúde mental e necessidade de manter o equilíbrio entre corpo, alma e mente para se obter o bem-estar. Bem como demonstra a necessidade de uma rede de apoio envolvendo família, amigos e profissionais para dar suporte a quem está precisando, pois isso pode salvar vidas.

Foto: Érika Fonseca