Ações reforçam importância de comunicar a família sobre o desejo de ser doador de órgãos

27/09/2021 - Anna Regadas

No Brasil, o índice de recusa familiar na hora de doar os órgãos dos pacientes já falecidos chega a 40%, segundo dados do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), de 2021

Doação de orgãos - Foto: Divulgação/Ministério da Saúde

O diálogo e a manifestação do desejo de ser doador de ´órgãos aos familiares é algo primordial para garantir que esse ato de amor seja realizado. Em um momento de tanta dor que é a perda de um ente querido e com o poder de decisão em suas mãos, infelizmente muitas famílias por não terem conversado antes sobre o assunto acabam não autorizando a doação.

No Brasil, o índice de recusa familiar na hora de doar os órgãos dos pacientes já falecidos chega a 40%, segundo dados do Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), de 2021. Já o Estado do Ceará chegou a alcançar o percentual de 43% no mesmo período. O levantamento chama atenção para a necessidade de campanhas de conscientização que reforcem a importância do doador manifestar o seu desejo aos familiares.

Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, entre os dias 2 e 7 de agosto, revelou que sete em cada dez brasileiros gostariam de ser doadores de órgãos ao morrer. Entretanto, cerca de metade desses potenciais doadores (46%) não haviam comunicado a família sobre esse desejo O levantamento ouviu 1.976 pessoas com 18 anos ou mais, moradoras de 129 municípios e pertencentes a todas as classes econômicas.

Setembro Verde

Neste mês, denominado Setembro Verde, são realizadas diversas ações no país que visam conscientizar a sociedade sobre a importância da doação de órgãos e tecidos. Uma dessas iniciativas é a campanha “Seja Doador de Órgãos e Avise sua Família”, promovida pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) e a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO). A iniciativa busca justamente alertar que a família tem a palavra final sobre a doação de órgãos.

Em Fortaleza, o Instituto Dr. José Frota, realiza hoje, 27 de setembro, data em que é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos, a 9ª Edição do Encontro das Famílias Doadoras, nos jardins do Centro Cultural Casa Barão de Camocim. O evento pretende reunir pais, filhos e irmãos de doadores, jovens e adultos que aguardam nas filas de espera por um novo órgão e ainda pacientes já beneficiados com o transplante, além de profissionais da saúde envolvidos nos processos.

Mesmo com a pandemia, o IJF foi responsável por 50% dos órgãos doados aos pacientes nas filas de espera no Ceará durante o ano de 2020. A unidade, através da Comissão Intra Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT/IJF) também obteve um dos índices mais positivos do Brasil, registrando no mês de agosto deste ano, a autorização de mais de 90% das famílias atendidas pelo hospital para a doação de órgãos.

De acordo com a assessoria do IJF, o resultado é fruto do posicionamento claro, seguro, sensível e empático dos profissionais do setor. Mas reforça que a decisão mais assertiva vem do próprio doador ainda em vida, comunicando a sua família o seu desejo em salvar vidas caso seja possível.

Cenário

Entre março e dezembro de 2020 foram realizados, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), 13.042 transplantes em todo o Brasil, contra 23.360 procedimentos efetuados em 2019. Os dados fornecidos do Ministério da Saúde indicam queda de 10.318 transplantes no período, em função da pandemia do novo coronavírus.

Com o agravamento da pandemia, no primeiro semestre de 2021 em relação aos primeiros seis meses de 2020, a taxa de doadores efetivos caiu 13%, enquanto os transplantes sofreram retração de 24,9%. Hoje a lista de espera do país na fila do transplante de múltiplos órgãos alcança 46.738 pessoas, sendo 26.670 para transplante de rim.

No Ceará, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), revela que, de janeiro a agosto deste ano, foram feitos 904 transplantes de órgãos e tecidos. A maior parte de córnea (587), de fígado (109) e de rim de doador falecido (107). 

O número já é 80,5% do total de transplantes feitos em todo o ano passado (1.122).  De acordo com o Registro Brasileiro de Transplante de 2020 da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o Ceará foi o sexto estado no ranking nacional em números de transplantes de órgãos com doadores falecidos por milhão da população e primeiro da região Nordeste e Norte. No entanto, o número de transplantes realizados ainda não atendeu à necessidade estimada, exceto no transplante de córnea.

Mutirão transplante de córnea em Fortaleza

O Instituto Cearense de Oftalmologia (ICO) realiza hoje (27) e amanhã (28) no horário de 8h às 12h, um mutirão para a marcação de cirurgias para transplante de córnea em Fortaleza. A ação faz parte do calendário Setembro Verde, que visa conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e tecidos.

A iniciativa vai contemplar os pacientes já diagnosticados com alguma patologia na córnea e que possuem indicação de transplante. Os interessados devem levar 1kg de alimento não perecível ao local. O atendimento será realizado por ordem de chegada.

Serviço: Mutirão de transplante de córnea no Instituto Cearense de Oftalmologia (ICO)

  • Endereço: R. Barão de Aracati, 1280, Aldeota, Fortaleza
  • Dias: 27 e 28 de setembro
  • Horário: 8h às 12h
  • Informações: (85) 3201-1010

Tipos de doadores

A doação de órgãos pode acontecer de duas maneiras; por meio de doadores vivos ou falecidos. Em vida, as pessoas podem doar rins, parte do fígado ou do pulmão e medula óssea. Nesta última os doadores precisam apenas ter entre 18 e 55 anos, estar saudáveis e não ter tido câncer. O Hemoce coleta 5 ml de sangue do braço para avaliar a compatibilidade. Por lei, familiares podem ser doadores até o quarto grau de parentesco, quem estiver fora deste parâmetro, somente com autorização judicial.

O segundo tipo é o doador falecido. São pacientes com morte encefálica, geralmente vítimas de catástrofes cerebrais, como traumatismo craniano ou AVC (derrame cerebral). Para ser um doador, a pessoa precisa ter deixado claro em vida, sua intenção de ser um doador; e após a morte, a família precisa concordar com a doação.

Foto: Divulgação/Ministério da Saúde