Diagnóstico precoce de casos de Transtorno de Déficit de Atenção reduz agravos na vida adulta

24/09/2021 - Câmara Municipal de Fortaleza

Apesar de parecer uma doença nova, a TDH é reconhecida em diversas partes do mundo desde o século XIX. Entretanto seu estudo mais apurado ocorreu a partir da década de 60

Movimentação de pessoas nas comunidades de Fortaleza

Muitos consideram uma doença moderna e outros nem a tratam como doença, pois antigamente criança hiperativa era considerada apenas “traquina”, mas a ciência tem demonstrado que o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, ou simplesmente TDAH é um agravo que pode causar vários problemas para a pessoa diagnosticada, caso não procure tratamento. Quando criança, a tendência é ser rejeitada pelas demais e quando adulto pesquisas mostram que o TDAH está associado ao fracasso acadêmico, abandono escolar, acidentes de trânsito, uso de drogas, álcool e divórcio, entre outras situações negativas. O diagnóstico precoce pode, no entanto, reduzir agravos futuros.

Apesar de parecer uma doença nova, a TDH é reconhecida em diversas partes do mundo desde o século XIX. Entretanto seu estudo mais apurado ocorreu a partir da década de 60. Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), ocorre em 3 a 5% das crianças, e em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas de inquietude sejam mais brandos.

Segundo a professora Lia Lira Olivier Sanders, do Departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal do Ceará UFC), o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento, que se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade. “Os sintomas aparecem na infância. Há forma predominantemente de desatenção e predominantemente de hiperatividade e impulsividade combinadas,” pontua.

O diagnóstico, conforme a professora, é clínico e é feito quando há um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento da criança. Ela ressalta que os sintomas se manifestam antes dos 12 anos de idade e por mais que as manifestações já ocorram na infância, alguns pacientes só recebem o diagnóstico na idade adulta.

Com relação ao aumento de casos do TDAH em crianças durante a pandemia no Ceará, ela desconhece estudos que indiquem um aumento de prevalência o transtorno. “A pandemia é muito recente e qualquer evidência deve ser considerada preliminar, mas há estudos mostrando que a pandemia, como estressor, pode exacerbar sintomas em pacientes com algum transtorno mental, de forma geral”, observa.

Causas genéticas

O TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Crianças com TDAH são tidas como “avoadas”, “vivendo no mundo da lua” e geralmente “estabanadas” e “ligadas na pilha alcalina”, pois não param quietas. Os meninos tendem a ter mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que as meninas, mas todos são desatentos. Já os adolescentes com TDAH podem apresentar mais problemas de comportamento, como por exemplo, dificuldades com regras e limites.

Com os adultos, ocorrem problemas de desatenção para coisas do cotidiano e do trabalho, bem como com a memória, são muito esquecidos. São inquietos e parece que só relaxam dormindo, vivem mudando de uma coisa para outra e também são impulsivos (colocam os carros na frente dos bois). Muitas vezes acabam sendo tachados de egoístas e  associando o transtorno a outros problemas como uso de drogas e álcool, ansiedade e depressão.

As causas

Estudos científicos mostram que portadores de TDAH têm alterações na região frontal e as suas conexões com o resto do cérebro. A região frontal orbital é uma das mais desenvolvidas no ser humano em comparação com outras espécies animais e é responsável pela inibição do comportamento, pela capacidade de prestar atenção, memória, autocontrole, organização e planejamento. O que parece estar alterado nesta região cerebral é o funcionamento de um sistema de substâncias químicas chamadas neurotransmissores (principalmente dopamina e noradrenalina), que passam informação entre as células nervosas (neurônios).

Outras causas podem ser: por hereditariedade, pois foi observado nas famílias de portadores de TDAH a presença de parentes também afetados com TDAH; por influências ambientais, como se a criança aprendesse a se comportar de um modo “desatento” ou “hiperativo” simplesmente por ver seus pais se comportando desta maneira; pelo uso de substâncias ingeridas na gravidez, tais como, a nicotina e o álcool; sofrimento fetal; exposição a chumbo e problemas familiares.

O diagnóstico pode ser feito a partir de um questionário denominado SNAP-IV que foi construído a partir dos sintomas do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Americana de Psiquiátrica, que é apenas um ponto de partida para levantamento de alguns possíveis sintomas primários do TDAH. O diagnóstico correto e preciso do TDAH só pode ser feito através de uma longa anamnese (entrevista) com um profissional médico especializado (psiquiatra, neurologista, neuropediatra).

O tratamento de crianças e adolescentes com TDAH baseia-se na intervenção multidisciplinar envolvendo profissionais das áreas médicas, saúde mental e pedagógica, em conjunto com os pais. O profissional de saúde deve educar a família sobre o transtorno, através de informações claras e precisas, a fim de que aprendam a lidar com os sintomas dos seus filhos. Intervenções no âmbito escolar também são importantes e, muitas vezes, é necessário um acompanhamento psicopedagógico centrado na forma do aprendizado, como por exemplo, nos aspectos ligados à organização e ao planejamento do tempo e das atividades.

Com relação a medicações, no Brasil, existem duas categorias de estimulantes encontrados no mercado: o Metilfenidato e a Lis-dexanfetamina. Cerca de 70% dos pacientes com TDAH, respondem adequadamente aos estimulantes, com redução de pelo menos 50% dos sintomas básicos do transtorno e os toleram bem. Alguns estudos também demonstram a eficácia da Bupropiona (Antidepressivo) e da clonidina no TDAH. São usadas quando houver presença de comorbidades que contra-indiquem o uso dos estimulantes ou quando estes não forem tolerados.

Pesquisas mostram que, aproximadamente, 70% (setenta por cento) das crianças tratadas com psicoestimulantes demonstram benefícios, tais como: maior manutenção da atenção, concentração e foco. Consequentemente, isso pode gerar um melhor desempenho em sala de aula, menor ocorrência de desatenção e impulsividade. Casos de impulsividade tendem a diminuir, resultando em menos comportamentos disruptivos.

Onde tratar?

Segundo a psicóloga Kaliny Oliveira, do CAPs Infantil da Prefeitura de Fortaleza, geralmente o perfil de atendimento do CAPs Infantil é de TDAH moderado e grave, mas caso seja o TDAH leve ou apenas TDAH o atendimento deve ser feito na rede primária, isto é, nos postos de saúde. “Mas pode ser agendada uma consulta, tanto nos postos como no CAPs para que a criança seja avaliada e seja traçado o perfil do transtorno o indicado o local para o tratamento”, esclarece.

Outros locais que realizam o atendimento são: o Núcleo de Atenção à Infância e Adolescência (NAIA), no Hospital Mental de Messejana e o ambulatório de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital Universitário Walter Cantídio (AMPIA/HUWC).

Com informações da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA)

Foto: Érika Fonseca