Covid-19: pesquisa mostra que testes realizados fora do tempo prejudicam notificação da doença

24/03/2021 - Ana Clara Cabral

O tempo incorreto dos exames ocasiona o aumento de resultados falso-negativos, impedindo o isolamento dos suspeitos e consequentemente, o controle do vírus

Um estudo feito pela Universidade Federal do Ceará revelou que quase metade dos testes de Covid-19 realizados no Brasil tiveram a sua eficácia comprometida por serem feitos no tempo inadequado. O Nordeste, de acordo com o estudo, foi a região com menor índice com 41,6%, e na região Sul a taxa de comprometimento dos testes foi a maior (66,1%).

No Ceará, 1.618.983 testes já foram feitos desde o início da pandemia. Sendo a maioria RT-PCR (924.727), e testes rápidos em segundo lugar (695.650). O tempo médio observado desde o início dos sintomas dos pacientes até a realização dos testes foi de 10 dias. Cada um dos cinco tipos de exames que são aplicados no Brasil possui um tempo adequado específico para sua execução. Entenda:

  • O RT-PCR é considerado o diagnóstico padrão-ouro, segundo a pesquisa, e deve ser aplicado de 3 a 7 dias do aparecimento dos sintomas. O teste detecta o ácido nucleico do vírus em secreções do trato respiratório.
  • Teste rápido de anticorpo, que verifica a resposta imunológica do organismo por meio da identificação de anticorpo na análise sanguínea, deve ser realizado somente a partir do 8º dia dos sintomas da doença.
  • Teste rápido de antígeno, exame que detecta a proteína do vírus no organismo, mas possui uma sensibilidade inferior nos resultados. Deve ser feito de 2 a 7 dias do surgimento dos sintomas.

O RT-PCR e o teste rápido de anticorpo são os dois tipos mais utilizados no país, responsável por 92% dos exames no período. Segundo o estudo, o intervalo de tempo ideal não foi respeitado em uma a cada duas testagens. No caso do RT-PCR, 47,9% foi no tempo incorreto.

No teste rápido de anticorpo, 46,6%. Os outros exames tiveram uma margem ainda maior de erro. O teste rápido de antígeno teve 68% de suas aplicações fora do prazo, o resultado mais negativo observado.

A pesquisa “Intervalo de tempo decorrido entre o início dos sintomas e a realização do exame para Covid-19 nas capitais brasileiras, agosto de 2020”, analisou 1,79 milhão de notificações de casos suspeitos da doença em todas as capitais e no Distrito Federal no período de 1ª de março e 18 de agosto do ano passado

Falsos-negativos e subnotificação

O tempo incorreto dos exames ocasiona o aumento de resultados falso-negativos, impedindo o isolamento dos suspeitos e consequentemente, maior controle do vírus. Segundo as autoras do artigo, os resultados revelam a urgência na realização dos exames para diagnóstico, além da necessidade de agir com rapidez somada à falta de conhecimento sobre a doença.

Outro problema observado no estudo, além do tempo inadequado, foi a escolha incorreta do exame. Apesar do Ministério da Saúde considerar que os testes sorológicos (teste rápido, ELISA, ECLIA, e CLIA) não devem ser utilizados de forma isolada para estabelecer a presença ou ausência do vírus, eles foram usados em cerca de metade dos exames, aumentando também o índice de resultados falso-negativos.

Os testes para diagnóstico de pessoas que apresentam sintomas em contextos epidêmicos devem ter sensibilidade e especificidade maior que 99%, o que não é o caso dos testes sorológicos, que possuem sensibilidade superior a 85% e especificidade 94%.

Em resumo, o estudo alerta sobre a hipótese de que os números da pandemia no Brasil não correspondem à realidade, já que a testagem fora do prazo indicado de cada exame pode acarretar a notificação errada de resultados negativos, além de outros dados nacionais.

Acesse aqui o artigo na íntegra.

Fonte: Agência UFC

Fotos: Governo do Estado do Ceará