Coronavírus é capaz de infectar o cérebro, revela estudo

19/10/2020 - Câmara Municipal de Fortaleza

O estudo foi publicado no último dia 13 de outubro na plataforma medRxiv

coronavírus - Imagem: Reprodução/medRxiv

Um recente estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pela Universidade de São Paulo (USP), divulgado na plataforma medRxiv, comprova que o vírus SARS-CoV-2 é capaz de infectar células do tecido cerebral, tendo como principal alvo os astrócitos. Os resultados revelam que indivíduos que tiveram a forma leve do coronavírus podem apresentar alterações significativas na estrutura do córtex – região do cérebro mais rica em neurônios e responsável por funções complexas como memória, atenção, consciência e linguagem.

O estudo foi realizado por meio de experimentos feitos com tecido cerebral de 26 pacientes que morreram de Covid-19, onde apresentaram a infecção desse tipo celular. Em cinco delas também foram encontradas alterações que sugeriam um possível prejuízo ao sistema nervoso central.

Segundo um dos coordenadores da pesquisa, o professor de bioquímica da Unicamp, Daniel Martins, dois trabalhos anteriores já haviam detectado a presença do novo coronavírus no cérebro, mas não se sabia ao certo se ele estava no sangue, nas células endoteliais (que recobrem os vasos sanguíneos) ou dentro das células nervosas. “Nós mostramos pela primeira vez que ele de fato infecta e se replica nos astrócitos e que isso pode diminuir a viabilidade dos neurônios”, explicou.

Os astrócitos são as células mais abundantes do sistema nervoso central e desempenham funções variadas: oferecem sustentação e nutrientes para os neurônios; regulam a concentração de neurotransmissores e de outras substâncias com potencial de interferir no funcionamento neuronal, como o potássio; integram a barreira hematoencefálica, ajudando a proteger o cérebro contra patógenos e toxinas; e ajudam a manter a homeostase cerebral.

O pesquisador ainda ressalta que até o momento não existem evidências disso na literatura, apesar de alguns pacientes apresentarem sintomas neurológicos. “Esse é um estudo feito com centenas de pacientes moderados, não são nem pacientes graves, e que demonstra que as alterações morfológicas estão correlacionadas com a covid-19”, Daniel Martins também salienta que não se sabe o que vai acontecer ao longo prazo, mas afirma que pessoas curadas ainda tem queixas de sintomas neurológicos mesmo depois de o vírus já ter saído do corpo.

Em outro braço da pesquisa, exames de ressonância magnética foram feitos em 81 voluntários que contraíram a forma leve da COVID-19 e se recuperaram. Em média, as avaliações presenciais ocorreram 60 dias após a data do teste diagnóstico e um terço dos participantes ainda apresentava sintomas neurológicos ou neuropsiquiátricos. As principais queixas foram dor de cabeça (40%), fadiga (40%), alteração de memória (30%), ansiedade (28%), perda de olfato (28%), depressão (20%), sonolência diurna (25%), perda de paladar (16%) e de libido (14%).

Foram incluídas na pesquisa somente pessoas que tiveram o diagnóstico de COVID-19 confirmado por RT-PCR e que não precisaram ser hospitalizadas. De acordo com os pesquisadores, pela análise dos exames de ressonância magnética foi possível perceber que algumas regiões do córtex dos voluntários tinham espessura menor do que a média observada nos controles, enquanto outras apresentavam aumento de tamanho – o que, segundo os autores, poderia indicar algum grau de edema.

O professor da Unicamp ressalta que essas informações são a primeira pista para que se tenha tratamentos mais efetivos especialmente para aqueles pacientes que tiveram acometimentos neurológicos. “Nem todos vão ter sintomas neurológicos, uma média de 30% a 35% são os que têm esses sintomas. Para esses, é bom saber que os sintomas podem sim ser derivados de infecção no cérebro”, finalizou. As pesquisas devem continuar para entender o papel do vírus e como ele chega ao cérebro.

Informações: Agência Fapesp e Agência Brasil

Imagem: Reprodução/medRxiv