Aumento do uso de eletrônicos por crianças na pandemia provoca riscos à saúde

15/09/2020 - Anna Regadas

Psicólogo dá dicas de atividades educativas, lúdicas e interativas que podem ser incluídas na rotina das crianças

Trabalho em home office, limpeza da casa, afazeres domésticos, cuidados com os filhos, ensino remoto são algumas atividades realizadas diariamente por milhares de famílias durante a pandemia do novo coronavírus. Fora isso, os pais ainda têm que lidar com o acesso das crianças aos eletrônicos, como televisão, computador, tablet, celulares e videogames, que aumentou neste período. O uso excessivo dessas telas pode, no entanto, gerar riscos para a saúde das crianças, como alerta o psicólogo Fábio Paz.

Segundo Fábio, quanto mais o aparelho é de uso individual maior o risco que ele oferece. “A TV, por exemplo, ela oferece um risco menor do que o uso do tablet ou do celular, já que esses aparelhos a criança tende a usar mais de perto, de forma individual. Então a gente tem o risco fisiológico que é a postura, mas também o risco no aspecto subjetivo e cognitivo, das emoções e do desenvolvimento de modo geral”, afirmou.

O psicólogo alerta que a criança que fica muito tempo nos eletrônicos, acaba tendo maior dificuldade de desenvolver os aspectos de criatividade, da inventividade e da coordenação motora. “Um dos riscos grandes é de aumentar a irritabilidade. Conversando com os pais, a gente percebe relatos de que os filhos ficaram mais irritados. Então, a gente tem riscos múltiplos. A criança pode ter o sono afetado, o ciclo da alimentação, até o ciclo de uso pra o banheiro, pois de tanto tempo que querem ficar nos eletrônicos, acabam não indo ao banheiro”, apontou.

A analista de contas, Ana Cirliane Coelho, 31 anos, é mãe do Murilo Gabriel (8 anos) e da Maria Laura (1 ano). Ela falou sobre os desafios que enfrentou durante o isolamento social. “O Murilo tinha o hábito de jogar no campo de futebol, saía com mais frequência. Com a pandemia, houve a necessidade de ficar em casa, sem poder sair. A princípio ele ficou tranquilo, mas no segundo mês percebi que ele estava muito nervoso e irritável. Chorava por tudo. Sem contar que ele deixou de ver os colegas da escola, família, então foi um tempo complicado”, explica.

Com o retorno das atividades econômicas e flexibilização, além de ver os familiares novamente, Murilo também começou a fazer aulas de natação, o que segundo Ana, tem ajudado no desenvolvimento físico e mental. Para driblar a rotina, durante o isolamento social, ela conta que buscou envolvê-lo em atividades com a família, seja nas tarefas domésticas, como também em brincadeiras. “Compramos joguinhos de futebol de botão, de engenheiro que a Laura desmonta e ele monta. Também peço a ajuda nas atividades da casa como arrumar o seu quarto. Ele também faz sucos, aprendeu os temperos da carne e a fazer bolo”, relata.

Sobre o uso de eletrônicos, Ana diz que é um desafio, mas que por entender os riscos que o uso excessivo dos dispositivos ocasiona, limitou a média diária do uso do celular para no máximo quatro horas, dividindo entre o período da manhã e da tarde, após sua aula online que começa às 13 horas. “Há dias que ele usa por uma, duas horas pela manhã. Há dias que não usa. À tardinha ele usa também, depois da aula. Usa umas duas horas, aí vai assistir TV ou brincar. E como estou trabalhando de casa consigo ver o que ele está fazendo e monitorar o que assiste. Ele gosta de assistir documentários e canais de raciocínio lógico”, destaca.

Essa limitação do uso, ainda mais neste período da pandemia nem sempre é bem aceita pelos filhos. Nesse caso, conforme apontou o psicólogo Fábio é recomendado negociar e fazer acordos. “A negociação do tempo tem que ser uma construção. Se a criança sempre teve uso livre das telas, tem que se limitar aos poucos e ir inserindo outras opções. Por isso o estabelecimento de horários de maneira visual, tipo pregado na parede ou quarto pode ajudar muito. Inclusive construindo junto com a criança”, orientou.

O psicólogo também deu dicas de atividades que podem ser inseridas na rotina, a fim de diminuir o uso de aparelhos eletrônicos. “Uma opção viável é tentar realizar atividades aeróbicas com as crianças. O corpo e a mente da criança precisam do movimento, correr, pular, dançar. É necessário proporcionar essas atividades para a criança em forma de experiência. E através de atividades lúdicas podemos construir essas experiências com a criança, mas isso exige o empenho e participação dos adultos, pois a criança por si só não tem essa iniciativa”, afirmou.

É possível ainda agregar a parceria “corpo-tela”, com jogos de dança, karaokê e yoga, além de brincadeiras que podem ser realizadas a distância com amigos, por videochamada, como jogos de mímica, que estimulam a criança a se movimentar e não ficar parada de olho na tela.