Como escolas particulares estão se preparando para a retomada das aulas

25/06/2020 - Câmara Municipal de Fortaleza

Retomada das aulas presenciais está prevista somente na quarta e última etapa do plano de retomada gradual do Governo do Ceará. Contudo, escolas já se preparam para receber alunos da forma mais segura possível, considerando que a pandemia de Covid-19 ainda não acabou

Caso o plano de retomada gradual das atividades econômicas e comportamentais do Ceará continue sem interrupções, as aulas presenciais em escolas particulares devem estar novamente autorizadas ao fim do próximo julho. A previsão exige, portanto, que os estabelecimentos de ensino comecem a traçar planos próprios de recuperação do ano letivo.

O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe-CE) tem recomendado às escolas retomar aulas presenciais de maneira gradual. “Estamos sugerindo a, quem puder, oferecer o sistema híbrido (em que os pais e responsáveis podem optar por seguir para aulas presenciais ou manter aulas remotas)”, disse a presidente do órgão e uma das diretoras do colégio Deoclécio Ferro, Andréa Nogueira. Contudo, a gestora compreende que não são todas as escolas que têm condições de manter dois sistemas em funcionamento.

O modelo híbrido também é entendido por Marco Aurélio de Patrício Ribeiro, doutor em educação, como uma das formas mais seguras de fazer a retomada das aulas. No entanto, como Andréa, ele sabe do custo. “Vai ser um processo muito caro pras escolas se elas tiverem de colocar câmeras em sala de aula para o professor dar aula presencial e os alunos que estiverem doentes ou temerosos de ir à escola poderem assistir de casa”, exemplifica.

Outras recomendações feitas pelo Sinepe-CE, em protocolo construído com consultoria de infectologista e epidemiologista, são, por exemplo, o uso obrigatório de máscaras por todos, o estabelecimento de horários diferenciados de entrada e saída de alunos, o distanciamento social e o fornecimento de itens e equipamentos para higiene pessoal.

“Tudo isso vai ter um esclarecimento. Uma semana antes, as escolas vão fazer vídeos e enviar comunicados”, garantiu Andréa, complementando que os primeiros dias de retorno devem ser de continuidade dessas explicações. “Vamos mostrar questões básicas da higienização, dizer por que a máscara é importante, apresentar filminho sobre o vírus, todo esse contexto, pra que a criança (no caso do ensino infantil) assimile e os pais, também”.

Além disso, de acordo com a presidente do Sinepe-CE, estão sendo orientados revezamentos de turmas, distanciamentos sinalizados em filas de cantina, desinfecção de todos os ambientes antes e depois de cada turno e aferição de temperatura — quando possível. “É o momento de ter a parceria de todos. Infelizmente, o vírus continua por aí”, reconhece Andréa.

“Nenhuma escola pode prometer aos pais que seus filhos não vão pegar o vírus. Pode prometer tomar precauções. Isso vai ser uma discussão”, pressupõe Marco Aurélio. O profissional destaca, ainda, a resposta de crianças aos protocolos de segurança. “As cobranças são que toda criança esteja de máscara, que tenha álcool em gel em todo canto, que haja limpeza constante, que tenha tapetes para descontaminar sapatos. Tudo isso vai implicar numa rotina que elas têm dificuldade em seguir. Acredito que vai ser algo dificultoso”.

Andréa encara a readaptação às aulas presenciais como mais um desafio a ser superado. “Aulas remotas diariamente já foram uma adaptação para toda a comunidade escolar. A pandemia não nos permitiu outra opção. Tínhamos de encontrar um meio. Os pais foram parceiros da escola nessa caminhada”, lembra a gestora. Neste novo momento, ela acredita que deve haver ainda mais cooperação. Principalmente considerando que muitos pais já tiveram de retomar seus postos de trabalho e não têm com quem deixar os filhos.

Mudança de hábitos

Para Marco Aurélio, um dos principais hábitos que deve mudar com a retomada das aulas presenciais é o de pais mandarem filhos doentes para a escola. “Os pais têm que ter a preocupação de não mandar de jeito nenhum filho com qualquer sintoma de qualquer doença. É um processo educativo”, acredita o doutor em educação.

Planejamento

O Colégio Santa Isabel, na avenida Bezerra de Menezes, não tem, ainda, data definida para o retorno das atividades presenciais. No entanto, tem um plano em curso e já começou a modificar suas estruturas físicas para receber alunos e funcionários.

De acordo com a assessoria de imprensa, o colégio vai adotar o sistema híbrido de ensino pelo menos até o fim do ano letivo e vai executar quatro fases para o retorno gradual das séries: na primeira etapa, voltam apenas 25% dos alunos (Educação Infantil até o 1º ano do Fundamental e o 3º ano do Ensino Médio); na segunda etapa, 50% dos alunos; na terceira, 75%; e, na quarta e última etapa, 100%. Contudo, mesmo quando todos puderem retornar, ainda assim a escola fará rodízio para não manter todos os alunos presencialmente no prédio.

Outros cuidados foram exemplificados pela instituição: entrada e saída da escola deve obedecer a uma tabela de horários; estão sendo colocadas sinalizações com limitadores de proximidade, inclusive, nas salas de atendimento ao público e estão sendo instalados totens de álcool em gel com acionamento via pedal e tapetes sanitizantes nas portarias e escadas. Além disso, todos os alunos devem levar máscaras e trocá-las a cada duas horas. Também deve haver intervalos para cada turma lavar as mãos com água e sabão.

Inadimplência

Andréa Nogueira, presidente do Sinepe-CE, relatou que tanto as pequenas como as grandes escolas particulares de Fortaleza sofreram graves impactos financeiros devido à pandemia de Covid-19. “A inadimplência cresceu uns 40% e tudo isso devido a acontecimentos concomitantes: alguns pais tiveram salários reduzidos, outros ficaram desempregados”, citou.

Além disso, Andréa destacou os gastos com a adaptação para o modelo de ensino remoto. “Muitas escolas tiveram de criar suas plataformas, pagar pelo uso das ferramentas digitais. Teve escola que ficou com receio de fazer isso de forma gratuita e teve de fazer esse investimento, independentemente de cancelamento de matrícula e de inadimplência”.

Reportagem: Luana Severo

Foto: Mateus Danas