Covid-19: Pesquisadores da UFC constroem mapa que relaciona o avanço da pandemia em Fortaleza a questões sociais

28/05/2020 - Câmara Municipal de Fortaleza

Coordenador do estudo, o professor Eustógio Wanderley Dantas, do departamento de Geografia da UFC, acredita que as informações podem ajudar o poder público a direcionar melhor as estratégias de combate ao contágio

Um estudo feito por pesquisadores do departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e divulgado na última segunda-feira, 25, associa o avanço da pandemia de Covid-19 em Fortaleza a fatores como vulnerabilidade social e faixa etária populacional. O levantamento tem como base estatísticas sobre a doença registradas no Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, considera, também, supostos casos de infecções ainda no mês de janeiro deste ano, quando se estima que o novo coronavírus já estaria circulando pela Capital.

Conforme o estudo, viagens de avião e de ônibus “facilitaram” o contágio pelo novo coronavírus na Cidade. As primeiras, tendo sido responsáveis por importar a infecção do exterior, e, as segundas, por levar o vírus dos bairros mais nobres para os mais periféricos.

Nas periferias, o vírus encontrou situações históricas de vulnerabilidade social, econômica e ambiental que facilitaram sua rápida disseminação. “Nessas áreas, há convívio continuado com uma série de doenças, como a dengue, a chikungunya, a doença do zika vírus, a H1N1, a leptospirose, o calazar e outras”, explica Eustógio Wanderley Dantas, coordenador do estudo.

Além disso, a análise considera que a pandemia de Covid-19 provoca ainda mais impacto negativo quando alcança regiões não só vulneráveis como com uma grande quantidade de moradores idosos. “O contágio muda para um conjunto de bairros populares com percentual elevado de população com mais de 60 anos de idade, como a Barra do Ceará e o Vila Velha. Na Barra, o número de mortes é superior ao número nas áreas centrais”, analisa Eustógio.

Somadas ao fato de que desigualdades sociais e econômicas estão presentes mesmo em bairros ricos, essas conclusões levam à compreensão de que estratégias homogêneas de combate ao contágio pelo novo coronavírus não diminuem o problema.

“Áreas pobres, também, não estão 100% em condições de alta vulnerabilidade. Tínhamos de ter preocupação com as ‘parcelas do território’. Há necessidade de ter detalhamento da informação. Porque, se não, você vai adotar estratégias superficiais, sem grande repercussão”, compreende Eustógio.

O professor explica, por exemplo, que as estratégias para conter inicialmente o contágio, como o bloqueio de aeroportos, já não são mais efetivas. Muito porque não convergem com a lógica de disseminação de doenças virais nas periferias. “Tem que ter ações heterogêneas. É um aprendizado. Hoje, a gente tem que pensar no transporte por ônibus”, citou, mencionando, ainda, as dificuldades de algumas regiões em seguir os protocolos de isolamento social.

O professor universitário, por fim, mencionou que há muitos anos Fortaleza enfrenta doenças provocadas pela transmissão de vírus e bactérias. Disse que há “certa naturalização” dessas enfermidades. “As pessoas adoecem, morrem e continuamos a nutrir essa dimensão de que vivemos num mundo seguro na perspectiva sanitária”, criticou. E, como saída, apontou a necessidade de, com pesquisa, solucionar problemas históricos de ordem social e econômica e “se aprimorar no tempo, incorporar novas estratégias e dar respostas, de fato”.

Pesquisadores envolvidos no estudo

Participaram, na UFC, do desenvolvimento da pesquisa, os laboratórios de Planejamento Urbano e Regional (LAPUR), Geoprocessamento e Cartografia Social (LABOCART) e Climatologia Geográfica e Recursos Hídricos (LCGRH), a empresa júnior GeoMaps Consultoria, e o Programa de Pós-Graduação em Geografia, com apoio do Observatório das Metrópoles do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT).

Reportagem: Luana Severo

Foto: Mateus Dantas