Como o ato de tocar o rosto se tornou um vilão durante a pandemia

22/05/2020 - Rochelle Nogueira

Segundo estudo o ser humano toca seu rosto pelo menos 23 vezes por hora.

Movimentação no bairro Vicente Pinzon

Algumas medidas para a contenção da pandemia do coronavírus precisam ser tomadas para que a proliferação da doença comece a desacelerar. Dentre as diversas recomendações das autoridades de saúde, uma das mais importante, é evitar tocar o rosto. Segundo informa a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ato de levar as mãos à boca, nariz e olhos é um perigo e pode levar o indivíduo a contaminação da Covid-19.

Com o costume de tocarmos o rosto involuntariamente, um estudo foi realizado em 2015 e analisou estudantes de Medicina da Universidade de New South Wale, Austrália. A pesquisa revelou que os indivíduos mesmo conscientes dos efeitos nocivos do hábito, tocaram em seus rostos ao menos 23 vezes por hora, o que incluía o contato frequente na boca, nariz e olhos.

Segundo o estudo, dos toques mucosos observados, 36% (372) envolviam a boca, 31% (318) envolviam o nariz, 27% (273) envolviam os olhos e 6% (61) eram uma combinação dessas regiões.

O risco de contaminação foi reforçado pelo infectologista, Dr. Jorge Luiz Rodrigues, que destaca a necessidade de redobrar os cuidados nesse período de proliferação.

“O que acontece é que o vírus é transmitido através de contato, gotícula e algumas vezes por aerossol. O contato de mãos contaminadas em mucosas pode levar a transmissão do vírus, por isso a pessoa não pode tocar de forma nenhuma nem nos olhos, nem na boca e nem no nariz sem higienizar as mãos antes”, atenta o médico.

Dr. Jorge Luiz ressalta ainda que os cuidados devem ser redobrados quando acessar o seu ambiente residencial. “Assim que a pessoa entrar em casa ela que tem de higienizar as mãos, deixar os sapatos do lado de fora, colocar as roupas para lavar e depois tomar um banho. Depois disso ela está liberada para tocar nas mucosas, desde que não tenha ninguém com Covid-19 em casa”, alertou.

Conforme as recomendações os cidadãos devem evitar ao máximo o toque nas áreas do rosto. No entanto, a ação é um pouco mais complexa por envolver comportamentos e hábitos humanos, como destacam profissionais ligados a psicologia do comportamento.

Atos involuntários – hábitos e costumes

Para o psicólogo Fábio Paz o ato de tocar no rosto é um comportamento que se aprende ao longo do tempo e tem várias razões, mas, no geral, se torna de fato um hábito.

“O nosso rosto é nossa identidade diante das pessoas, é o que nós transparecemos. Então elas tocam muito no rosto devido ao seu aspecto de autoimagem, para ajeitar cabelo, para se sentir de alguma forma melhor consigo mesma. É um hábito de fato, um hábito muito comum, muito antigo, e que nós aprendemos desde a infância até por imitação. A grande questão de um modo geral é esse movimento semi-involuntário, por alguma necessidade que estamos sentindo e nós não percebemos, a não ser durante a noite quando estamos dormindo e mesmo assim nós tocamos o nosso rosto. Para se policiar não existe fórmula mágica, não existe remédio completamente eficaz enquanto a isso. Na verdade, é um processo de mudança de hábito, de vigilância. A primeira coisa é identificar se algo faz surgir essa necessidade”.

Entrevista com o psicólogo Fábio Paz

A psicóloga Ana Paula Portela reforçou que o ato das pessoas pegarem no rosto tem um lado tanto extintivo, como de comportamento. “Extintivo porque se nós temos órgãos como a boca, o nariz, e os olhos isso logo tem um certo volume de secreção, e a gente acaba passando as mãos muitas vezes para lidar com elas. E subjetivo, do lado do comportamento, pois são órgãos de muita expressão e a gente se comunica através desses órgãos, especialmente dos olhos e da boca e as mãos acabam muitas vezes sendo acessórios para essa forma de comunicação. Por exemplo, a gente leva a mão na boca por espanto, a gente leva a mão a testa por preocupação, a gente passa a mão nos olhos quando estamos chorando. Em relação ao extinto o que deve ser feito é realmente o uso da máscara, porque ao sentir uma coceira no nariz é extintivo que se leve a mão ao nariz, ao sentir um incômodo na boca a gente tem que tirar com a mão, então o uso da máscara vai ser a princípio quase que uma educação forçada”.

Entrevista com a psicóloga Ana Paula Portela

Confira as dicas da psicóloga Renata Farias

Foto: Érika Fonseca