Distanciamento Social: Guarda Municipal fará ordenamento nas proximidades de agências bancárias

09/04/2020 - Anna Regadas

Com as aglomerações nas agências bancárias, a Prefeitura vêm adotando medidas para garantir o distanciamento social e evitar a propagação do coronavírus.

As aglomerações em agências bancárias e lotéricas têm sido uma cena comum nos últimos dias em Fortaleza e no Estado do Ceará. Recebimento de aposentadoria, saques, pagamentos e o benefício de R$ 600 do Governo Federal são alguns dos motivos que levam as pessoas a procurarem os bancos. A procura também aumentou nesse período pela instabilidade dos aplicativos e desconhecimento do uso de ferramentas digitais.

Embora haja uma recomendação das instituições financeiras para a utilização do internet banking, apps e outros meios digitais, o acesso à internet ainda não é uma realidade para grande parte da população cearense. Isso também faz com que a população procure as agências bancárias.

Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o Estado do Ceará registrou em fevereiro deste ano, 922 mil acessos de banda larga fixa. Esse valor significa que a cada 100 domicílios apenas 31,5 possui acesso à internet. Na capital, o número é maior. No mesmo período, a Anatel apontou 425 mil acessos ativos, o que representa 49,9 residências com internet a cada 100.

No Brasil, o número de pessoas com acesso à internet também deixa a desejar. De 206 países analisados pela Anatel, cerca de 80 estão em posição melhor no percentual de usuários de Internet por cem habitantes. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2016, revela que a internet estava presente em 63,3% dos lares brasileiros, ou seja, mais de um terço dos domicílios brasileiros sem acesso à internet.

Com essa realidade, é preciso que as agências e autoridades redobrem os cuidados com a população que precisa ir ao banco. O Governo do Ceará que decretou a proibição de serviços não essenciais e tem reforçado a política de isolamento social vê com preocupação as aglomerações que estão acontecendo no Estado.

Na última terça-feira, 7, o governador Camilo Santana (PT) enviou ofício à Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), solicitando organização, pelas instituições financeiras, da fila formada pelos clientes fora das agências, a fim de manter o distanciamento entre as pessoas e evitar a propagação da doença.

Na avaliação do presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, Carlos Eduardo Bezerra, essa função cabe ao Poder Público. “Se as pessoas na fila estão colocando em risco a saúde pública, que os poderes públicos utilizem dos meios corretos para que isso seja dissipado. Imagina você tirar a pessoa que está atendendo e garantindo o serviço essencial para organizar a fila e evitar a aglomeração, é o mesmo que tirar o médico de dentro do hospital para organizar a fila na rua dos que buscam atendimento”, afirmou.

Carlos reforçou que se os profissionais de serviços essenciais como bancários ou médicos, deixarem de atuar no que sabem e dentro do ambiente preparado com os protocolos sanitários da Organização Mundial de Saúde para cumprir o papel, que ele afirma ser do Poder Público, o atendimento vai ao colapso rapidamente.

O presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará enviou dois ofícios ao governador Camilo Santana, um no dia 19 de março e outro hoje (9) solicitando a garantia das forças do Estado, inclusive de segurança oficial, para resguardar a população de possíveis aglomerações que, fatalmente, aumentem o risco de contaminação pelo coronavírus (Covid-19).

No ofício, Carlos estima que cerca de 2,6 milhões de cearenses devem buscar o auxílio do Governo Federal e que isso pode lotar as agências bancárias, elencando as unidades com maior procura. São elas: Caixa em Messejana, Parangaba, Conjunto Ceará, Mister Hull, Caucaia, Praça do Ferreira, Ag. Iracema (Centro) e José Walter.

O gestor destacou ainda a mediação feita através do vereador Evaldo Lima (PCdoB) com a Prefeitura de Fortaleza, para reforçar as medidas de fiscalização nas agências bancárias da Capital e evitar aglomerações. Em vídeo, Evaldo afirma que após a solicitação do seu mandato, o Executivo se comprometeu em enviar guardas municipais para organizar as filas nos bancos da Capital. Veja o vídeo abaixo:

https://youtu.be/IVy5MEvJhYc

O vereador Evaldo ressaltou que a organização das filas é de responsabilidade das instituições financeiras e da Federação Brasileira dos Bancos (FEBRABAN) mas ponderou que a Prefeitura e Governo diante do quadro emergencial de calamidade pública podem assumir a responsabilidade e depois serem ressarcidos pelos bancos.

Ouça o áudio do vereador Evaldo Lima sobre o assunto

Em nota a Federação Brasileira dos Bancos (FEBRABAN) afirmou estar atenta ao movimento da população em busca de atendimento e que “cada banco tem adotado estratégias próprias para organizar as filas dentro e fora das agências de acordo com as características de seus postos de atendimento”.

Dificuldades enfrentadas pela população

Nesse momento de pandemia, a população tem enfrentado várias dificuldades para manter o isolamento social. Com a falta de acesso à internet, ou desconhecimento sobre o uso da ferramenta e até mesmo a instabilidade nos serviços digitais, as pessoas acabam tendo que ir aos bancos resolver suas pendências. Chegando lá, ainda encontram filas imensas, sem demarcações, pessoas sem máscaras e nenhum tipo de proteção, ficando ainda mais expostas ao risco de contaminação do coronavírus.

Por pertencer ao grupo de risco, o aposentado Enéas Sousa diz que têm cumprido as orientações do Governo, mas relatou que no início desse mês foi à Agência receber seu pagamento e se deparou com muitas pessoas na fila, sem máscaras e nenhum tipo de proteção. Enéas não possui internet em casa e precisa, portanto, se deslocar até ao banco para receber a sua aposentadoria e fazer os seus pagamentos. O aposentado também não considera seguro fazer transações bancárias de forma online.

Sandra Reis, 61 anos, aposentada, conta com o serviço de internet na sua residência e já faz uso de algumas ferramentas como e-mail e whatsapp mas quando se trata do aplicativo de banco confessa que ainda não aprendeu a usar a ferramenta e que por isso tem que ir à Agência receber a aposentadoria.

O professor de história Cícero Sampaio, 29, já utiliza os aplicativos de banco há algum tempo, mas relata que nesse período de quarentena teve dificuldades para realizar o pagamento pelo app e acabou tendo que se deslocar até a lotérica. “O aplicativo facilitou muito a minha vida, pois resolvia tudo pelo celular. Com a questão do coronavírus e do isolamento social, deve ter aumentado o número de usuários, e isso causou uma instabilidade. Essa semana tentei pagar uma conta e o aplicativo não abria, ficava carregando e nada de concluir. Passei a manhã toda tentando, mas não deu certo e acabei indo mesmo na lotérica para fazer o pagamento. Então é algo que deve ser avaliado e melhorado para que possamos seguir a recomendação de ficar em casa”, afirmou.

Foto: Mateus Dantas