OMS descarta transmissão aérea, mas mantém orientações rigorosas para prevenção do coronavírus

03/04/2020 - Silmara Cavalcante

Segundo o órgão internacional, não há evidências científicas, até então, que comprovem a transmissão aérea do coronavírus. O contágio acontece, principalmente, por contato direto ou indireto com pessoas infectadas

Em boletim divulgado no último domingo, 29 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que, segundo evidências científicas analisadas até agora, a Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, não tem transmissão aérea. O contágio acontece pelo contato direto ou indireto com pessoas infectadas e superfícies ou objetos tocados por elas.

Esse entendimento, porém, não modifica as recomendações básicas de autocuidado como isolamento social, quando possível, e higiene constante das mãos. Isso porque, por mais que o vírus não fique suspenso no ar por muito tempo e, por isso, não percorra longas distâncias, ele é transmitido por gotículas respiratórias expelidas em tosses, espirros e, até mesmo, pela fala de alguém infectado que estiver a menos de dois metros de distância de alguém sadio.

Infectologista do Hospital São José, professor e pesquisador de pós-graduação da Universidade de Fortaleza, Keny Colares acrescenta que, embora não haja consenso sobre a influência do clima para o aumento do contágio, doenças respiratórias são mais comuns em locais úmidos e com temperaturas baixas. “Nesta época do ano (período de quadra chuvosa no Ceará), em que é um pouco mais abafado, que não tem tanto vento, as gotículas (de tosse e espirro) podem ficar um pouco mais de tempo no ar, facilitando a vida do vírus”, opinou.

O profissional também comentou sobre a utilização de máscaras ao sair de casa para evitar contaminação. Ele disse que, apesar de o material proteger a pessoa de gotículas expelidas a curta distância, ele deve ser somente um elemento a mais de proteção e, não, um substituto para a higiene das mãos ou uma justificativa para quebrar o necessário isolamento social. Sem contar que, manuseado de forma errada, pode mais expor do que proteger. Além disso, Keny pontuou que a busca por máscaras em farmácias pode provocar um grave desabastecimento das unidades de saúde que prestam atendimento aos pacientes infectados.

A respeito de máscaras caseiras feitas de tecido, o médico admite ser uma possibilidade para não desabastecer de máscaras cirúrgicas os profissionais da saúde. No entanto, ponderou não ter certeza “se máscaras caseiras vão ter capacidade de proteger” porque “não são testadas”.

Por ora, o infectologista recomenda manter as orientações preventivas como higienizar mãos com água e sabão ou álcool em gel; cobrir nariz e boca ao espirrar e tossir; evitar aglomerações; manter os ambientes bem ventilados e não compartilhar objetos pessoais. Dessa forma, segundo ele, é possível que a curva de elevação de casos e óbitos confirmados por Covid-19 no Ceará tenha velocidade mais lenta e gradual, evitando sobrecarregar a rede de assistência à saúde. Segundo o Painel Coronavírus, do Ministério da Saúde, o Ceará tinha, até ontem, 3, à noite, 550 casos confirmados de Covid-19 e 20 óbitos.