Sessão solene homenageia o centenário de nascimento do presidente João Belchior Marques Goulart

04/11/2019 - Câmara Municipal de Fortaleza

A Câmara Municipal de Fortaleza realizou, em conjunto com a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, nesta segunda-feira (04), Sessão Solene para celebrar o centenário de nascimento do presidente João Goulart, nascido em 1º de março de 1919. A homenagem foi proposta através do requerimento 0613/2019, de autoria do vereador Evaldo Lima (PCdoB). A sessão […]

A Câmara Municipal de Fortaleza realizou, em conjunto com a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, nesta segunda-feira (04), Sessão Solene para celebrar o centenário de nascimento do presidente João Goulart, nascido em 1º de março de 1919. A homenagem foi proposta através do requerimento 0613/2019, de autoria do vereador Evaldo Lima (PCdoB). A sessão foi presidida pelo vereador Evaldo Lima (PCdoB), em nome do presidente do Legislativo Municipal, Antônio Henrique.

Mesa de honra foi formada pelo sr. João Vicente Goulart Filho, filho do homenageado; deputada estadual Augusta Brito e o deputado estadual Carlos Felipe, autores do requerimento pela Assembleia; pelo secretário estadual de Ciência. Tecnologia e Educação Superior, Inácio Arruda; o secretário de Cultura de Fortaleza, Gilvan Paiva; o presidente estadual PCdoB, Luiz Carlos Paes eu pelo presidente do Inesp, João Milton Cunha de Medeiros.

Em sua saudação aos convidados, o vereador Evaldo Lima saudou todos os que defendem o estado democrático de direito, que respeitam a história do país e que lutaram contra a ditadura que infelicitou o país de 1964 a 19845 e que “agora sorrateiramente bate em nossa porta”. Segundo ele, essa sessão é realizada em defesa da história mas também é um alerta sobre o futuro. “Os fascistas, autoritários e reacionários passarão e a democracia permanecerá. Agora a sociedade faz justiça aos grandes nomes do trabalhismo. Estamos recebendo três ex-presidentes do PDT, Flávio Torres, Hypérides Macedo e Mariano Freitas. E também o filho de Jango, João Vicente, que tinha apenas 7 anos de idade, quando sua mãe Maria Tereza, disse que o pai ia para um país Azul e depois voltaria. Mas isso não aconteceu. João Goulart foi o único presidente que morreu no exílio e não teve o direito de reencontrar seu filho,” recordou.

Evaldo disse que Jango, desde cedo seguiu o varguismo e defendeu o direito ao trabalhismo. “Jango foi fundamental para o retorno de Getúlio Vargas. Quando ele deu aquela celebre entrevista na fazenda São Vicente em 1949, Jango anunciou que Getúlio voltaria nos braços do povo e seria eleito presidente do Brasil. Goulart esteve a frente do Ministério do Trabalho de Vargas. Convocou o primeiro encontro da Previdência Social. E conseguiu junto ao presidente o atendimento de uma demanda, o reajuste de 100% do salário-mínimo”. Evaldo afirmou que hoje, o Ministério do Trabalho foi extinto melancolicamente pelo atual governo. “Regredimos, mas temos que nos apoiar na história”, disse.

Segundo Evaldo, Vargas ao se suicidar adiou o golpe militar por 10 anos. Frisou que o “Governo de extrema direita” agora quer colocar torturadores como heróis. “João Goulart nos rememora o que é mais civilizatório, nos inspira democracia, o exemplo disso são as reformas de base por ele defendidas, que foram essenciais para a redemocratização do Brasil. Mas somente 37 anos após sua morte, em 2013, o Congresso anulou o decreto que extinguiu os seus direitos políticos. Resgatemos o verdadeiro herói que lutou até o fim pela democracia. Viva a memória do João Goulart,” concluiu.

Em nome da Assembleia Legislativa, o deputado Carlos Felipe fez um pronunciamento. “Hoje é um momento de nos enriquecermos historicamente. O marechal Lot, que em 1964 foi candidato a presidente e perdeu para Jânio Quadros tinha uma filha que era casada com o coronel que estava a frente do quartel de Crateús. Naquela época existia uma pressão grande dos militares para que o bispo Dom Fragoso fosse preso, pois ele fazia um acolhimento de pessoas que defendiam a reforma agrária. Mas pela postura corajosa do coronel impediu que isso acontecesse. Para resolver a situação os militares resolveram aposentar o coronel. O bispo acabou preso e torturado, mas depois continuou sua luta pela democracia. Dom Fragoso deixou uma semente de democracia em Crateús.

Para o deputado é preciso mostrar à juventude do Brasil afora e colegas da classe média o que significa a ditadura. “O que foi, o que passamos e aonde não devemos voltar. É uma grande alegria reverenciar a história de João Goulart, uma linda história de vida que deve ser lembrada”, enfatizou.

Em seguida, foram feitas as homenagens da noite com a entrega de um troféu com o busto de Jango para Flávio Torres; Hypérides Macedo; Mariano Freitas; prefeito Roberto Cláudio, representando pelo secretário de Cultura, Gilvan Paiva e para o filho de Jango, João Vicente Goulart Filho.

Mariano de Freitas, ex-presidente do PDT, deu um testemunho sobre a influência de Jango em sua vida. “Sou médico e hoje faço 50 anos de formado. Nasci nos Inhamuns, mas lutei para me formar. João Goulart quebrou o feudo que tinha na universidade, principalmente no curso de medicina. Ele aumentou as vagas para o curso e por isso hoje sou médico. Seu pai (se dirigindo a João Vicente) deve estar vendo essa reunião aqui. Hoje, pela primeira vez, o estudante de Medicina de 1964 que depois passou a ser militante político pôde agradecer o bem que recebeu”, afirmou.

Pelos homenageados, João Vicente Goulart Filho falou da importância de Jango, não ficou apenas para a história do país, mas devido também as suas propostas. “Darci Ribeiro dizia que Jango caiu não por seus defeitos, mas por suas qualidades. A proposta de reforma de base criada por jovens idealistas que estavam com Jango, foi sepultada, mergulhando o país numa longa noite ditatorial. Eram ideias de um estado democrático. Jango herdou a tradição e as propostas de Getúlio, que muitas vezes foi incompreendido. Hoje vemos o país mergulhado na incompetência. Mas 55 anos depois do golpe, voltamos a lembrar dessa fase da história. Jango vinha sendo perseguido desde quando era ministro do Trabalho, quando coronéis pediam sua queda por transformar o ministério da Industria e Comércio, no de trabalhadores”, recordou.

“Mas a proposta de reforma defendia um justo equilíbrio entre capital e trabalho. Hoje vemos os desempregados numa profunda desesperança pela perda dos seus direitos. Vemos o Ministério do Meio Ambiente com pessoas que são contra o meio ambiente; o Ministério da Educação com pessoas que são contra a Educação. E depois diziam que o Governo João Goulart era formado por incompetentes. Os incompetentes no caso eram Darci Ribeiro, Santiago Dantas, Paulo Freire, entre outros. Jango fortaleceu a Petrobras, a Eletrobras, a Embraer, entre outros patrimônios nacionais, hoje dilapidados. Nós que temos o pensamento de Justiça Social, além de conhecer aquele projeto de nação, temos que lutar para que o Brasil seja de todos e não somente para aqueles que tem mais. Essa era a proposta de Jango”, pontuou.

Sobre a Reforma Agrária, João Vicente destacou que seu pai queria criar um projeto nacional desenvolvimentista, assentando nas margens das estradas e ferrovias, 1 milhão de novos proprietários rurais. “Estou orgulhoso porque tantos anos depois, hoje estou filiado ao Partido Comunista do Brasil. Quando falamos em frente ampla temos que falar na amplitude das alianças. Jango recebeu o Carlos Lacerda que tinha pensamento e posturas diferentes, mas avisou que primeiro os dois deveriam pensar na democracia brasileira e depois resolveriam suas diferenças. Nós como partidos de esquerda não podemos colocar o carro na frente dos bois. Temos que nos unir por uma causa maior que é a democracia. Sou agradecido pela homenagem. Há 55 anos Jango saia do poder, mas sua proposta está ainda viva. Vocês que representam o Ceará, muito obrigado. Levo no meu coração essa bela imagem, e que a luta que travaremos seja por um futuro melhor para essa nação”, finalizou

Perfil

João Belchior Marques Goulart nasceu em São Borja em 1° de março de 1919 e faleceu em Mercedes, 6 de dezembro de 1976, em circunstancias ainda não esclarecidas em sua verdade histórica. Conhecido popularmente como “Jango”, foi um advogado e 24° presidente do país, de 1961 a 1964. Antes disso, também foi vice-presidente, de 1956 a 1961, tendo sido eleito com mais votos que o próprio presidente, Juscelino Kubitschek.

João Goulart era Humano, demasiadamente humano. Duas vezes a história tentou Jango com a possibilidade do mergulho na Guerra Civil, em 1961 e em 1964, e duas vezes ele soube resistir. Seu horizonte utópico para a realização das Reformas, embora não implementadas, serviram de pretexto para o Golpe de 1964, porém moldaram o Estado social brasileiro depois da redemocratização, inspirando a Constituição brasileira de 1988.

Uma anotação manuscrita de Jango da época do parlamentarismo brasileiro de ocasião mostra que coragem não Ihe faltava: “Não podemos ficar na constatação verbal da miséria porque esta constatação não encerra em si nenhuma solução concreta”. Havia realismo, indignação e força naquilo que dizia, sonhava e fazia.

Seu exemplo era Vargas e hoje Jango hoje serve de inspiração para muitos que fazem o pensamento progressista de nosso pa´ss como Luciana Santos, presidente do PCdoB, Cid e Ciro Gomes, expressões de um novo projeto nacional de desenvolvimento e a gestão progressista de Roberto Cláudio, a frente da prefeitura de Fortaleza. Jango vive na peregrinação e na luta de seu filho, João Vicente Goulart Filho. O centenário de João Goulart é uma boa oportunidade para refletir sobre o legado desse homem que queria reformar o Brasil.

Fotos: André Lima