Saúde x Vida: uma relação de cumplicidade

29/10/2019 - Adriana Albuquerque

Falar em saúde no Brasil coloca em destaque o trabalho de muitas mãos. A busca constante pela melhoria do serviço, colocando em primeiro lugar a vida e o compromisso das pessoas que escolheram dedicar o seu tempo e esforços em prol do próximo. Decisão profissional que vem se refletindo nos resultados alcançados em diversas instituições […]

Falar em saúde no Brasil coloca em destaque o trabalho de muitas mãos. A busca constante pela melhoria do serviço, colocando em primeiro lugar a vida e o compromisso das pessoas que escolheram dedicar o seu tempo e esforços em prol do próximo. Decisão profissional que vem se refletindo nos resultados alcançados em diversas instituições espalhadas pelo país, e um exemplo de dedicação e sucesso pode ser visto em Fortaleza.

O momento da procura por um atendimento de emergência não é algo esperado por ninguém, mas ao chegar a uma unidade de saúde e saber que profissionais comprometidos com a missão de salvar vidas trabalham no local, o sentimento de preocupação dá lugar a segurança. Vivência retratada na fala de Flaviana Moreira Ferreira com o irmão em atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Dr. Eduíno França Barreira, conhecida  UPA do Cristo Redentor.

Foto: Mateus Dantas

Apesar da fragilidade causada pelo estado de saúde do irmão, Flaviana Moreira relata o compromisso da equipe de profissionais da unidade, e como um tratamento humanizado e atrelado a eficiência fortalece o sentimento de cuidado com a vida, garantindo que os processos na saúde estão voltados para um serviço de qualidade.

“No caso dele, que era uma urgência, os procedimentos foram muito bem feitos, nós estamos sendo bem acompanhados pelo serviço social e médicos. Os médicos, enfermeiros e os demais profissionais tem se prestado ao papel que nós acreditamos e esperamos de profissionais da saúde. Está tudo ocorrendo da forma correta e o melhor para o meu irmão”, relatou Flaviana na época da internação.

A adoção de novas técnicas para avançar na diminuição dos impactos das doenças na vida dos paciente faz toda a diferença, trabalho que conta com o apoio da Organização Nacional de Acreditação (ONA). Ao estabelecer normas de qualidade e segurança dos pacientes dentro das organizações de saúde através da implantação de protocolos para uma assistência integrada, a ONA revela um movimento das unidades de saúde no Brasil entorno das certificações de qualidade, reforçando o papel dos profissionais de saúde nos processos de trabalho.

Todo o processo de Acreditação inicia-se por uma vontade mútua de todos os envolvidos. Em Fortaleza, a gestão municipal por meio do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH) motiva os gestores das unidades a participarem da certificação.


“Iniciamos desde 2015, mudando a cultura, implementando protocolos, analisando indicadores e, fazendo o que nos propomos, salvar vidas”, fala da diretora de Gestão e Atendimento Hospitalar – UPAs/ISGH, Camila Alves Machado.

Atuação reconhecida pela Organização Nacional de Acreditação, concedendo a certificação Acreditado Pleno (Nível 2) a UPA do Cristo Redentor, chancelado pela Sociedade Internacional para Qualidade na Saúde (ISQua). 

Para alcançar o nível 2 da certificação os primeiros passos foram dados em 2015, como conta o coordenador clínico da UPA e médico emergencista, Dr. Tarcylio de Almeida Rocha. A acreditação chega com a sinalização de que estamos no caminho certo, e que, ao longo dos anos esse compromisso com a população impulsiona a implementação de novos processos na área da saúde.


É importante esse movimento de UPA’s serem creditadas pela ONA, temos mais de 600 unidades no país. Um momento muito recente, antes só existia uma UPA em Pernambuco com a certificação, e agora temos várias em processo de acreditação. Acho louvável o serviço público prezar pela qualidade”, destacou.

A UPA do Cristo Redentor, ao receber o certificado Acreditado Pleno, desponta como a primeira unidade do Norte e Nordeste (Nível 2) na ONA. O título coloca em destaque as práticas cotidianas de trabalho e a responsabilidade dos profissionais no ato de salvar vidas. Resultado de uma atuação integrada é a implantação do Protocolo Único de Monitoramento de AVC (PUMA) na unidade, que interliga o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e o Hospital de Geral de Fortaleza (HGF), referência no tratamento de AVC.

Com a implantação do PUMA os resultados são surpreendentes, como relata Dr. Tarcylio de Almeida, reduzindo o tempo de transferência dos paciente para a unidade referência no tratamento.

Vídeo apresentado pela UPA do Cristo Redentor a Organização Nacional de Acreditação (ONA) – (Material produzido pela UPA)

Os dados da Organização revelam um aumento das certificações no país, desde hospitais públicos e privados à Unidades de Pronto Atendimento. O Nordeste vem acompanhado esse desenvolvimento e atualmente é a segunda região com maior número de unidades certificadas. Vale ressaltar que as certificações são conferidas por meio de um voluntariado das instituições, que passam por um processo de auditoria e avaliação dos serviços prestados nas unidades.

A atuação da ONA, em 20 anos de fundação, ressalta a importância da Gestão e o estabelecimento de objetivos, metas e estratégias até a definição de diretrizes que possam direcionar as ações na saúde, como destaca Péricles Góes Cruz, superintendente técnico da ONA.

Universidade em favor da vida

Na trajetória de avanços e ganhos na área da saúde entramos no campo acadêmico, com destaque para os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos e na realização procedimentos médicos nos Hospitais Universitários.

Casos de sucesso no Brasil envolvendo a Universidade Federal do Ceará (UFC) são notáveis, e alguns desses marcos para a Medicina são resultado de um trabalho conjunto de vários pesquisadores do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), coordenado pelo professor Dr. Odorico Moraes.

Professor Odorico Moraes – Foto: Mateus Dantas

“Uma das contribuições mais marcantes da UFC, que atingiu boa parte da população brasileira, foi a implantação da política de genéricos no Brasil. E é importante lembrar que essa política só foi possível devido o trabalho de pesquisadores da Universidade, que desenvolveram o estudo de equivalência dos medicamentos”, ressaltou Dr. Odorico Moraes.

E esse envolvimento do NPDM com a saúde no Brasil resultou em diversas pesquisas, tento como referência a elaboração dos 100 primeiros medicamentos genéricos; a pílula do câncer, em fase de ministração em pessoas saudáveis; e os estudos com a pele da tilápia. História acompanhada de perto pela professora Elisabete Moraes, que no início das pesquisas de equivalência entre os medicamentos originais e os genéricos nem imaginava o que estava por vim.

E com os trabalhos do Núcleo de Pesquisa em pleno vapor os estudos avançam no aprimoramento da utilização da pele da tilápia, que como colocou Dr. Odorico Moraes, já pode ser utilizada em mais de 40 especialidades da Medicina, dentre elas a ginecologia, oncologia, dermatologia e ortopedia.

Em Fortaleza a pesquisa vem rendendo ótimos resultados no Centro de Tratamento de Queimados do Instituto José Frota (IJF), reduzindo o tempo de internação e o uso de medicações para dor e anti-inflatória, além de uma melhor reabilitação dos pacientes.

Laboratório de tratamento da pele de tilápia do NPDM – Fotos: Mateus Dantas

Sons da vida

E como falar sobre pesquisas e avanços na área acadêmica sem destacar a atuação dos Hospitais Universitários e a inclusão de procedimentos cirúrgicos inovadores no campo do ensino, contemplando uma grande parcela da população.

E um desses exemplos de sucesso e inclusão vem com o impante coclear, mais conhecido como ouvido biônico, devolvendo os sons da vida para pessoas com perda total de audição ou que não responderam a outros tratamentos.

No Dia Nacional do Surdo, comemorado em 26 de setembro, o Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) realizou o oitavo implante coclear na pequena Andressa Moura, de 2 anos e 10 meses. A mãe da paciente, Ana Flávia Moura relata a expectativa de ouvir as primeiras palavras da filha e como esse momento gera um misto de ansiedade e alegria.

Uma espera cheia de emoção
(Ana Flávia Moura, mãe de Andressa Moura / Foto: Evilázio Bezerra)

“É uma ansiedade muito grande pra ouvir ela falando as palavras. Se preparar para esse momento foi difícil, porque envolve uma cirurgia, mas saber que ela tem a possibilidade de escutar e falar superou tudo”.

A equipe médica comemora a realização do procedimento no Hospital Universitário, contando com ampla cobertura do tratamento pelo Sistema Único de Saúde. O implante coclear custa em média R$ 43 mil reais, e como frisa o médico otorrinolaringologista, Marcos Rabello de Freitas, ofertar esse procedimento no serviço público tem impacto direto na melhoria da vida da população surda.

O momento também reforça o papel formador e disseminador de inovações no campo acadêmico, tendo impacto direto na qualificação de novos profissionais médicos, que nas Universidades tem a possibilidade de participar de procedimentos cirúrgicos envolvendo tecnologia.

Equipe médica responsável pelo procedimento no Hospital Universitário
Foto: Evilázio Bezerra

“Um implante coclear ele é a possibilidade de você ofertar o mundo dos sons para um paciente. O Hospital ter a capacidade de oferecer isso a população é o sentimento de missão cumprida. Oferecer o implante é sentir a plenitude do que existe hoje de recursos no tratamento do deficiente auditivo”, médico otorrinolaringologista Sandro Barros Coelho.

Os resultados do ouvido biônico também são comemorados pela fonoaudióloga Alessandra Bezerra, que vem acompanhando de perto a evoluções pacientes e reafirma o papel do sistema público na realização das estratégias em saúde, fortacelendo o princípio da equidade.

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A saúde do corpo e da alma

Abraços que transformam a solidão em momentos de amor ao próximo
(Índia Fátima Tibiriça e Natanaely de Souza / Foto: Evilázio Bezerra)

A correria do mundo moderno, a busca incessante pela perfeição vem refletindo diretamente no modo de vida das pessoas e como elas absorvem esse rotina agitada das metrópoles. No foco dessa nova didática de vida vem as doenças relacionadas ao estresse, transtornos de ansiedade e as frustrações com as metas não alcançadas.

Nesta esfera do confronto do mundo real e os anseios do indivíduo surgem novas maneiras de lidar com as doenças e na harmonização do ser humano e ambiente social. E essa realidade vem sendo pautada na incorporação de práticas integrativas no Sistema Único de Saúde como tratamento complementar a medicina tradicional.

Ao chegar na Unidade de Atenção Primária à Saúde Francisco Melo Jaborandi, no bairro Jangurussu, em Fortaleza, encontramos um cenário totalmente diferente do que imaginamos num posto de saúde. Anexo à UAPS temos uma OCA de Saúde Comunitária mantida pela gestão municipal, que oferece a população os serviços de terapia em grupo, massoterapia, argiloterapia, auriculoterapia, dentre outras.

Práticas que vem mudando a vida de muitas pessoas, como relata Luziane Maria Pereira, que encontrou no local a paz e o amor próprio. “A OCA representa a minha recuperação de vida, estava em depressão e fui indicada para vir conhecer o local. E aqui eu me sinto amada e recuperei a minha auto-estima”, confessa Luiziane que ainda faz o acompanhamento médico, mas que vem superando por meio das terapia e tratamentos alternativos os transtornos emocionais do dia a dia.

As Práticas Integrativas e Complementares (PICS) são tratamentos que utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais, voltados para prevenir diversas doenças como depressão e hipertensão, além do tratamentos paliativos em algumas doenças crônicas. E quem chega na OCA Comunitária não quer sair, cercado de muito verde, redes armadas nas árvores, o local reflete plenamente o sentido da palavra “acolher”

Um lugar cheio de vida e que conta com uma anfitriã que é de tirar o “cocar”. Bisneta de índio, Fátima Tibiriçá, coordena as atividades do equipamento recebendo à todos com um abraço, passando as energias do universo aos visitantes com a sua maraca.

Foto: Evilázio Bezerra

Sempre circulando pelos ambientes da OCA, Fatinha carrega no nome a função de “vigilante da terra”, fortalecendo os laços com cada um que procura ajuda no local. “Aqui nós não cuidamos da doença, cuidamos das feridas que não cicatrizaram, as doenças da alma. As pessoas chegam na OCA na maior tensão da depressão ao ponto de cometer o suicídio, mas quando começam a fazer a memória de suas histórias e começam a perceber que por mais difícil que tenha sido a realidade vivida alguma coisa boa ficou: a vida“.

Exemplo vivenciado em um momento de plena conexão entre as pessoas do local, que se reunindo em volta de Natanaely de Souza, decidiram partilhar as suas dores e as suas preocupações reforçando o sentimento do amor ao próximo. 

A experiência reforça a magnitude das práticas integrativas no apoio ao ser humano. Apoio tão necessário na vida de Natanaely de Souza, que aos 25 anos enfrenta a luta diária contra a depressão.


Prática integrativas reforçam o trabalho da atenção básica na saúde mental – Foto: Evilázio Bezerra

Relato que a massoterapeuta Uiara Almeida, profissional da OCA Comunitária, conhece bem de perto. A relação das práticas integrativas com os tratamentos da saúde mental, além de ajudar diretamente na diminuição dos medicamentos, proporcionam um envolvimentos do indivíduo com a causa de seus problemas emocionais. “No nosso dia a dia não temos a oportunidade de conversar com o eu interior e a massoterapia vem proporcionando esses momentos”.

Imagens: Evilázio Bezerra


Vivências profissionais que vem ganhando espaço nas Unidades de Saúde de Fortaleza. Profissionais de unidades da atenção primária ganham um reforço nas suas atividades laborais podendo realizar uma nova abordagem junto a população. E a capacitação foi o primeiro passo, como relata a cirurgiã-dentista Adriana Martins, adepta das práticas complementares no seu cotidiano, a servidora da Unidade de Atenção Primária à Saúde Alarico Leite, no bairro Passaré, achou no curso ofertado pelo Município de Fortaleza em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, a oportunidade de aliar uma paixão pela técnica de auriculoterapia ao trabalho na Estratégia de Saúde da Família.

E atrelar a auriculoterapia ao ambiente de trabalho vem sendo gratificante. Adriana Martins fala com emoção dos resultados alcançados com a inserção da prática, e que vem mudando a relação das pessoas com o ambiente da unidade de saúde além de refletir diretamente no tratamento de problemas relacionados com a ansiedade e dores no corpo.

E os resultados são vistos quando falamos com Geane Gonçalves, que fala dos momentos de superação da ansiedade e como a auriculoterapia vem auxiliando no processo de tratamento.

Ao fim da quarta sessão, já com as sementinhas de mostarda aplicadas nas orelhas, Geane relata o sentimento de cumplicidade com a profissional que desenvolve o trabalho de auriculoterapia e como participar desses momentos vem melhorando a sua relação com os problemas do dia a dia. 

A adoção de práticas integrativas no Brasil é algo muito presente, pois retrata bem uma cultura do povo indígena, além de outras culturas milenares espalhadas pelo mundo. O país é um dos pioneiros no fortalecimento dos serviços na saúde pública, atentando para um cuidado humanizado da rede.

As ações envolvendo as práticas integrativas, como destaca o coordenador de Redes de Atenção Primária e Psicossocial (CORAPP), Rui de Gouveia, vem sendo cada vez mais fortalecidas nas unidades de saúde, proporcionando uma melhora significativa na vida da população, além de uma abordagem holística do indivíduo na atenção básica. “Nos locais onde existem as práticas existe uma menor tendência à medicação. Temos casos de transtorno de ansiedade leve, que com o tratamento de massoterapia, diminuem a possibilidade de medicação”, apontou o gestor.

O momento destaca um movimento de profissionais da saúde na atenção básica, que buscam associar o trabalho com atividades complementares. E os frutos são colhidos pela população que encontram uma melhor interação com o serviço de saúde promovendo uma relação de cumplicidade entre a comunidade e os profissionais. 

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A saúde em primeiro plano

Foto: Arquivo pessoal

Entrevista com a professora do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará, doutora em Ciências Políticas pela UFMG e integrante da pós-graduação no Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC), Carmem Leitão.

O momento colocou em pauta a evolução do sistema de saúde no Brasil e como algumas práticas de gestão e inovação podem melhorar e fortalecer o processo de construção da saúde no país.

1. Como podemos avaliar a saúde no Brasil desde a instituição do Sistema Único de Saúde (SUS) aos dias atuais, envolvendo ainda a saúde complementar (rede privada).

Tivemos um processo importante de mudanças desde a constituição de 88, quando você coloca a saúde como um direito de todos e dever do Estado, rompendo um momento com o modelo corporativista de bem estar social, em que o direito da saúde estava relacionado ao trabalho. Esse sistema tinha vários problemas de exclusão e de segmentação da assistência. As pessoas tinham acesso distintos à saúde, e você também tinham uma saúde pública separada, uma pelo Ministério da Saúde e outra pelas políticas de assistência previdenciária, o chamado INAMPS.

Quando você tem o processo de reforma sanitária, que você define novas regras e novas diretrizes no sistema de saúde, você cria todo um movimento de mudança e de redirecionamento dessa política, então hoje nós podemos vê vários avanços:

  • Descentralização da política de saúde: desconcentrando o poder e os recursos na questão da gestão
  • Fortalecimento da participação social
  • Processo de regionalização, um movimento de constituição de redes, todo um esforço que envolveu os gestores, profissionais e os movimentos sociais e entidades de classe

Então temos todo um movimento de mudanças, mas costumo dizer que é um processo de mudança lento, apesar de nós termos hoje um dos melhores programas de imunização e de transplantes do mundo. Na atenção primária você têm muitos avanços com a entrada dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS’s), que refletiu diretamente na diminuição da mortalidade materna e infantil.

Mas ainda temos alguns entraves na questão da construção do sistema universal de saúde, que é numa perspectiva de bem estar social e ainda temos algumas características parecidas com o passado: um sistema privado de saúde que foi criado anteriormente, rede complementar ao SUS, concentrada nos hospitais e na rede de diagnósticos imagens e tratamentos terapêuticos.

Temos uma rede também intitulada de suplementar. A saúde suplementar do Brasil, teve o seu nascimento anterior a 88, quando surgem as primeiras medicinas de grupos, cooperativas, um empresariamento da medicina, surgindo como um seguro para evitar grandes despesas no risco do adoecimento.

Com todo esse processo ainda temos um setor privado muito fortalecido, e o Brasil acaba tendo um sistema saúde misto, com a universalização dos direitos mas ainda consegue ter uma segmentação.

2. Os desafios na saúde são constantes do dia a dia, como podemos ultrapassar essas barreiras com a melhoria na área de gestão dos serviços?

Melhorar a gestão é um dos principais meios de qualificar esse sistema de saúde. Não resta dúvida de que quando uma gestão funciona bem, ela consegue ofertar os serviços onde mais precisa, consegue construir espaços de diálogos. A gestão é um meio de conseguir garantir o direito à saúde, melhorando a qualidade de vida.

Só que não podemos esquecer do falso dilema no sistema público, que falta é gestão ou é falta de investimentos. Acho pessoalmente que essas coisas não são excludentes, pois é impossível fazer saúde sem investimento, e nesse momento de austeridade fiscal, onde o financiamento é cada vez mais condicionado, os municípios já vem se esforçando extremamente para garantir a saúde da população, eles já vem gastando cerca de 25% do orçamento próprio em saúde, enquanto a União vem fazendo uma processo de redução da participação no financiamento do SUS. Essa é uma situação delicada, principalmente depois da Emenda Constitucional 95.

3. A utilização das inovações tecnológicas pode ajudar na área de gestão e como isso vem acontecendo ao longo dos anos?

Para sair desse problema, podemos incorporar novos sistemas de gestão, como ter a ajuda de aplicativos que possam trazer informações que os profissionais inserem no sistema para uma ação mais rápida.

Numa gestão compartilhada, utilizando a tecnologia da informação, se discute muito os fluxos de trabalho e assistencial e o gestor tem um papel importante no processo de efetivação das ações, e com isso esse gestor deve passar uma capacitação para o aprimoramento das práticas.

4. A gestão compartilhada entre poder público e organizações vem sendo uma constante na saúde pública, isso é reflexo de uma busca constante pela melhoria dos serviços?

A gestão compartilhada tem uma forma de organização que prevê uma integração com outros atores do sistema. Numa perspectiva de tomada de decisão administrativa conjunta, além do aprendizado mútuo, se transformando num espaço terapêutico para a equipe de profissionais que está participando da gestão dos serviços.

Isso também entra na perspectiva de pensar o controle externo, como os movimentos sociais e associações poderem está dialogando a gestão, pensando na organização do sistema. A opinião de todos os atores do processo deve integrar o processo para tomadas de decisão e inclusive o Legislativo, que vem tomando decisões importantes para a saúde. O Legislativo, representante dos interesses da sociedade, deve saber como se organiza uma rede e esse diálogo deve ser mantido com o objetivo de melhorar a gestão dos sistema de saúde no Brasil.

Expediente

Coordenadoria de Comunicação: Renata Sampaio
Diretor da Agência Fortaleza: Marcelo Lino
Reportagem: Adriana Albuquerque
Fotos: Evilázio Bezerra e Mateus Dantas