Cacique Pequena é agraciada com a Medalha Boticário Ferreira

02/08/2019 - Rochelle Nogueira

A Câmara Municipal de Fortaleza concedeu na tarde desta sexta-feira, 2, a Medalha Boticário Ferreira a sra. Maria de Lourdes da Conceição Alves, conhecida como Cacique Pequena. A homenageada é liderança indígena e a primeira mulher a se tornar cacique no Brasil. O propositor do ato solene foi o vereador Sargento Reginauro (sem partido). Para […]

A Câmara Municipal de Fortaleza concedeu na tarde desta sexta-feira, 2, a Medalha Boticário Ferreira a sra. Maria de Lourdes da Conceição Alves, conhecida como Cacique Pequena. A homenageada é liderança indígena e a primeira mulher a se tornar cacique no Brasil. O propositor do ato solene foi o vereador Sargento Reginauro (sem partido).

Para o parlamentar, a honraria reflete o momento em que as mulheres travam contra o preconceito e o machismo no país. Conceder o título a primeira mulher cearense Cacique no Brasil, tem um significado relevante para a cidade. “É muito simbólica essa homenagem, pois ela não fala apenas de uma indígena, mas da situação da própria mulher que luta para vencer essas barreiras do preconceito e do machismo. Ela sofreu muita resistência por esse título de primeira Cacique no país. Essa homenagem de hoje é uma representação da grande luta que as mulheres têm travado no Brasil”, evidenciou o vereador que atentou ainda para a discussão dos direitos da natureza algo emplacado como lei no Código da Cidade.

A homenageada, Cacique Pequena, agradeceu pela honraria concedida pela Casa Legislativa. “Quero agradecer primeiramente a Deus, esse Pai tão divino. Quero agradecer também pelo presente que recebi pelo nosso vereador, isso para mim é uma honra pois tenho recebido muitas homenagens mas nunca havia recebido das mãos de um Sargento. Me sinto muito lisonjeada”, enfatizou. Na oportunidade, Cacique Pequena cantou uma de suas músicas e atentou que a inspiração de seu trabalho vem da natureza, vem da mata.

Composição da mesa: vereador Sargento Reginauro, vereadora Larissa Gaspar, secretária de Proteção Social, Justiça, Mulheres e Direitos Humanos do Estado do Ceará; Socorro França, presidente nacional da Cruz Vermelha; Júlio Cals, presidente da Cruz Vermelha no Brasil; Allan Damasceno coordenadora da Casa da Mulher Brasileira; Daciane Barreto, coordenadora da Igualdade Racial do Estado do Ceará; Zelma Madeira, representante da Organização dos Professores Indígenas do Ceará; Fábio Alves.

Biografia da Cacique Pequena

Maria de Lourdes da Conceição Alves é seu nome de Batismo, mas é conhecida por todos como Cacique Pequena. Nasceu no dia 25/03/1945. Casada há 52 anos com o senhor Francisco Alves Filho, é mãe de 16 filhos, sendo oito homens e oito mulheres.

Aos olhos dos brancos as aldeias indígenas têm uma organização machista. Enquanto os homens caçam e guerreiam, as mulheres cuidam da casa e das crianças. Nesse contexto, naturalmente a liderança política é ocupada por um homem. E era assim que funcionava também a comunidade da etnia Jenipapo-Kanindé, em Aquiraz, a cerca de 60 quilômetros de Fortaleza. Até que, em meados da década de 1990, o cacique Teodorico faleceu e a comunidade ficou sem chefe. Reunidos, os índios escolheram para ocupar o posto Pequena, a primeira mulher a se tomar cacique no Brasil.

Cacique Pequena assumiu o cacikado em 6 de março de 1995, escolhida por seu povo a mesma pois o pé na estrada e foi em busca de melhoria para sua comunidade. Dentro de sua trajetória de Luta. Cacique Pequena conquistou vários benefícios para a aldeia, como casa de farinha, galpão de artesanatos, escola, posto de saúde, energia, abastecimento de água, pousada, museu indígena.

Uma de suas maiores conquistas foi o reconhecimento étnico de seu povo, pois nossa principal bandeira de Luta é a Mãe Terra, diz cacique pequena. Pequena terminou nem 2018 seu ensino médio na própria escola que conquistou. Ainda possui planos acadêmicos, como a ingresso no curso de História. Além disso, está engajada na criação de uma minifábrica para as Mulheres da aldeia trabalharem com produtos locais, como castanha de caju e doce de caju.

Comunidade Jenipapo-Kanindé

O Povo Jenipapo Kanindé vive na Terra Indígena Lagoa da Encantada, no município de Aquiraz, entre dunas, faixa de praia e a própria lagoa. Entre os locais sagrados, destacam-se o Morro do Urubu e a Lagoa da Encantada. Sua área é de 1.731 hectares de terra, com uma população de 409 pessoas, segundo dados do Siasi-Local, Dsei-Ce/SESAI/MS, em 28/10/2016.

Destacam-se pela produção agrícola, extrativista e artesanal. No artesanato, dominam a técnica do cipó, produzindo adornos, utensílios e até móveis. Em razão da beleza natural da área, e de uma articulação realizada com a Rede TUCUM e outras organizações, desenvolvem atividades de Turismo Comunitário, com destaque para as trilhas, a pousada e o restaurante, para receber com conforto seus visitantes.

Com o objetivo de fortalecer suas tradições, costumes e história, o Museu Indígena Jenipapo Kanindé também foi construído e apresenta aos seus visitantes um acervo composto por adornos, armas, artefatos utilizados nos rituais, cerâmicas, instrumentos musicais, peças de artesanato e utensílios, além de uma ampla exposição fotográfica.

Com uma forte organização de mulheres à frente da sua luta, ainda tem como principal liderança a Cacique Pequena, primeira mulher nomeada cacique do país, que, por problemas de saúde, passou o cacicado para sua filha Cacique Irê (Juliana Alves), que a ajuda na representação política externa e na organização interna da aldeia.

Apesar de terem se levantado na década de 80 juntamente com os Povos Tapeba, Pitaguary e Tremembé, seu procedimento de demarcação só se iniciou em 1995 e, atualmente, sua Terra já se encontra demarcada, aguardando as providências da FUNAI para desintrusão dos posseiros e pagamento das benfeitorias de boa-fé.

A principal festa do Povo Jenipapo Kanindé é a Festa do Marco Vivo, realizada durante o mês de abril, e costuma reunir outros povos, parceiros e visitantes em torno da celebração de rituais sagrados.

FONTE: Adelco – http://adelco.org.br/centro-documentacao/terra-indigena-jenipapo-kaninde/

Galeria

Fotos: Evilázio Bezerra.